quarta-feira, setembro 13, 2006

A morte do Senhor MAPRIL

Por um dia de Verão, de um qualquer ano passado, deambulavámos, eu e o António, em demanda dum lugar para refeiçoar.

Tropeçamos, nesta demanda, numa cave esconsa, aonde se acedia por escada vetusta. O lugar era meio lúgubre, semeado de mesas, dalguns armários, de balcão antigo e uma Registadora saída da década de sessenta do Século XX.

Amesendamo-nos e, no tempo dum ai, prantou-se, garboso, ao nosso lado, sujeito um pedaço untuoso (mais gordo de carnes, de andar cansado, arrastado...), propondo-nos uma suculenta ementa. Comemos, bebemos, gostámos e voltámos...um sem fim de vezes.

Entretanto, construimos uma tertúlia, de geometria variável, com um núcleo duro, mas ao qual se vieram, ao longo das semanas, acrescentando gente de imensa qualidade intelectual e, alguns, poucos, de enorme humanidade (de muito carácter e de moral impoluta).

O dia da refrega era às quartas-feiras (isto antes do nosso praeclaro edil se comprometer com a cidade e reunir nesse dia - quase em todas as semanas), passando, depois, para as terças-feiras.

Desta tertúlia resultaram muitas e importantes coisas. Virou mesmo Blog - o qual foi crismado de Sr. MAPRIL, em honra do dono daquele lugar de amesendação requintada e de comeres e beberes de muita qualidade.

Ao longo dos tempos fomo-nos afeiçoando ao Senhor (acima designado de untuoso...). Umas vezes zangados com os preços e com as distrações do Senhor, que nos tratava como se fossemos gente de enormes cabedais, mas que não nos perdoava nem um seitil!

Um sábado, igual a qualquer um destes dias, soubemos que tinha, o Senhor MAPRIL, vendido o BONDE.

De repente ficámos orfãos do lugar tertuliano.

Dias inteiros percorremos a cidade em demanda de lugar tertuliano, que nos merececesse. Hoje estamos apaziguados e temos já lugar agradável, de qualidade mastigatória.

Mas, ao que vem esta prosa, descozida, sem prosódia minima que a mereça aos olhos dos prováveis leitores?

No outro dia, o Rogério, apanhado de supetão, soube que: - O Mapril morreu!

Como dizia, e bem, o poeta:- Morrer é só não ser visto!

Pois, nunca mais poremos os olhos em cima do Sr. Mapril.


Quero, pois, terminando este prosear, dizer ao Sr. Mapril, lá onde estiver, que muito lhe agradeço aquele contentamento que resultava sempre da deglutição daquele cozido que nunca mais iremos saborear; aquele bola de coelho que era simplesmente divina; aquele rosbife, com alcaparras, que fazia o contentamento do Rogério; aquele leite creme, que fazia o meu contentamento...e aquele espectáculo de luz e sabores - que se derretiam daqueles impantes crépes Suzette!

Tudo isto e o mais que não recordo já - lho agradeço do fundo do coração, Senhor Mapril.

José Albergaria

Sem comentários: