segunda-feira, junho 02, 2008
Vida e Morte dos Partidos Politicos
Hoje, na politica portuguesa, há muita gente que já percorreu vários partidos, crenças politicas e, aqui e acolá, até crenças religiosas e filosóficas. Há muita gente que mudou, que se bandeou dum para o outro lado.
Há quem considere com desdém estas situações. Há quem considere a figura do Cunhal como o paradigma da coerência: porque, sempre, acreditou no marxismo e no comunismo, como solução par Portugal e até para a humanidade.
Mas a vida é bem diferente destas crenças. Proponho um exercicio: quantos partidos, grupos, havia à data do 25 de Abril de 1974? Quantos havia à data do 25 de Novembro de 1975? Quantos há hoje? E quantos havia na 1.ª República, em 1910? E quantos havia em 1870?
As sociedades europeias e ocidentais, malgrado opiniões dispersas, que anunciam o fim de quase tudo, continuam a pensar que os partidos são o modo adequado de representação de interesses, de ideias, mesmo até de valores morais.
Mantem-se mesmo, também contra ideias pouco consistentes, uma dicotomia que emergiu de modo singular na Assembleia Nacional saida da revolução francesa, no século XVIII: esquerda versus direita. Durante muito tempo a esquerda foi equiparada a "liberalismo" nos costumes, a progresso social, a equidade, a pacifismo, a mudança; ao invés, a direita, era equiparada a conservadorismo, a imobilismo, a belicismo, a auroritarismo, nomeadamente.
Despois da implosão da união soviética e dos seus satélites na europa ocidental e da sua aliança defensiva, o pacto de varsóvia, tudo, ou quase tudo se alterou, na Europa e no Mundo.
Ora bem, se o mundo mudou, o nosso olhar sobre ele teve de se trasformar. Óbvio.
Contudo, há quem não pense assim. Ele há gente que, uma vez mais, tenta adequar a realidade à sua doutrina, aos seus esquemas mentais.
Em Portugal assiste-se, hoje, a uma disputa curiosa. Quem é, verdadeiramente, de esquerda? Quem lidera, de facto, a esquerda, em Portugal? Há uma só esquerda? Ou, ao invés, existem várias esquerdas? E, então, quem lidera a esquerda?
No terreno temos o PS, o PCP, o BE e, dispersos, os Renovadores, ex-comunistas (há alguns que continuam no PC: veja-se o que ocorreu, recentemente, no seio do movimento Não Apaguem a Memória e as consequências que isso provocou numa deliberação da AR para a museulização do Aljube, deixando-se cair a exigência da criação dum memorial na antiga sede da PIDE!) e vários ex muita coisa (ml, PRP, frentistas de vários matizes).
Depois da última eleição para a Presidência da República, em torno de Manuel Alegre estará nascer (não se sabe bem o quê...) qualquer coisa. No próximo dia 3 de Junho vai realizar-se um encontro, com cantigas (canto livre?!...) que vai reunir Bloquistas, pintassilguistas e alegristas!...Este encontro já está a provocar muito desconforto, particularmente, no PS e por arrastamento, no PC.
Isto vai dar pano para mangas nas discussões a haver no seio das esquerdas portuguesas. Há muita gente, de esquerda, sobretudo gente que saiu do PC, que não se reconhecendo nem no PS, nem no PC (por maioria de razão...) anda à procura da sigla exacta, da doutrina adequada, da ferramenta bruta para destruir o neoliberalisno e o desenfreado monetarismo que enloqueceu o mundo.
Mas encontrá-la, em meu entender, é como a Queste del Saint Graal e a lenda do rei Artur, rei dos bretões.
Agora, o que se passa em Portugal é quase do dominio da ficção.
O PC é, provavelmente, o único na Europa que não se "reformou" e...sobe nas sondagens e continua a manter quase uma hegemonia no Movimento Sindical e influência nas policias, na magistratura e na administração pública, central e local. Os trotsquistas (IV internacional posadistas, Ernest Mandel, etc) uniram-se aos hiperestalinistas da UDP, mais uns quantos transfugas do MRPP e criaram o BE. Este grupo tem bons desempenhos parlamentares e tem vindo a subir, em número de deputados e, recentemente, nas sondagens.
Só mesmo em Portugal, para a emergêwncia de tais fenómenos.
Mas o que vai sair do teatro da Trindade, amanhã? Não faço a minima das ideias, mas que irá alimentar as discussões no seio da esquerda portuguesa, isso não tenho a menor dúvida. É, de resto, interessante notar quem, na blogoesfera, deu destaque a este acontecimento...
Vamos esperar para ver o que dali saltará. Seria desajustado esgrimir o quer que fosse em relação a este encontro feito de bloquistas, alegristas, pintassilguistas, ex-comunistas, etc.
Refundação da esquerda? Procura de caminhos novos? Mas, como tão bem disse o poeta de Sevilha "caminheiro/não há caminhos/o caminho faz-se a andar", provavelmente, dali não sairá nada de novo. Ou, talvez, uma enorme azia para o PS e para o PC.
Sente-se que a esquerda (ou, melhor dito, as esquerdas) continua a preserverar nos mesmos erros de sempre: não conseguem federar-se, porque são o resultado de divisões profundas e históricas e nenhum dos partidos quer dar o passo em direcção ao outro, porque se transformaram, cada um deles, em concorrentes do mesmo espaço social, político e eleitoral! Esta é que é a verdade!
O que me parece é que, se a história anda aos ziguezagues, daqui a cinquenta anos não haverá nem BE, nem PS, nem PC, ....Isto deveria tornar a esquerda mais humilde e mais prudente.
Mas, o que me conforta é que nas bandas das direitas a mesma coisa irá ocorrer. Provavelmente, até mais cedo do que no outro campo político:veja-se as votações que ocorreram sábado passado no PSD.
JA
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1 comentário:
bela reflexão!!! no geral concordo com o post, no entanto apraz-me acrescentar o seguinte:
Pena é que um dos dinamizadores do dito Encontro/Tertúlia/Comício,Ajuntamento, etc.. tenha vivido sempre à custa de um dos Partidos referênciados no post, e agora (mais vale tarde que nunca)resolveu divergir, sabe-se lá com que intenções???? Boas não são, certamente!
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