Há dias em que apetece
anoitecer mais cedo
por recear o brilho
dos olhos dos gatos.
Há dias em que não apetece morrer
de tão cansados da vida
que até nem importa viver.
Há dias sem um sorriso
apenas o mudo sinal da pedra
em que te recolhes
como gota de névoa
em manhã de montanha.
Há dias sem palavras contadas
com rosas de murmúrios
nos lábios feridos
com luzes e lumes
e fogos fátuos
aquecendo a nudez do teu corpo
na cama branca
dos silêncis mais antigos.
Há dias de vozes estranhas
envoltas no musgo do mal.
Mas há aquele sorriso que liberta
a criança presa no sótão da memória.
E então não há deuses nem palavras~
de soar longo
que nos prendam as mãos brtancas
e nos confundam os caminhos
que serenos não soubemos encontrar.
Pedro Castelhano
quinta-feira, janeiro 25, 2007
Reflexões destemperadas
*Já fui o maior do Mundo porque não sabia que o mundo era tão pequeno
#Já fui o maior ridículo porque pensava que as pessoas me levavam a sério
#Já fui jovem quando ainda não sabia que estava a envelhecer.
*Já tive amigos que se perderam porque se enganaram nos caminhos da amizade
*Quando toca um piano lembro-me sempre do sino da minha aldeia. Nunca ouvi o sino da minha aldeia. Mas lembro-me. Um dia quando não ouvir o piano, hei-de ouvir o sino da minha aldeia.
*Quando alguém morrer fico à porta do cemitério sempre na esperança de ser o último a entrar.
*Não há palavras para tanto sofrimento quando há tanto sofrimento sem palavras.
*Se os deuses soubessem o que se passa entre os humanos, não seriam deuses mas também não
quereriam ser humanos.
*Soldado de Esparta vai dizer aos teus chefes que o Continente já abriu. Perdeste a guerra.
*Um adjectivo agrediu um substantivo. A TLBS está a dirimir há tanto tempo o combate que tudo vai acabar num advérbio de modo.
*Não há nada como um assobio quando um surdo-mudo tenta desvendar os nossos lábios.
Pedro Castelhano em hora de pecado sem castigo.
#Já fui o maior ridículo porque pensava que as pessoas me levavam a sério
#Já fui jovem quando ainda não sabia que estava a envelhecer.
*Já tive amigos que se perderam porque se enganaram nos caminhos da amizade
*Quando toca um piano lembro-me sempre do sino da minha aldeia. Nunca ouvi o sino da minha aldeia. Mas lembro-me. Um dia quando não ouvir o piano, hei-de ouvir o sino da minha aldeia.
*Quando alguém morrer fico à porta do cemitério sempre na esperança de ser o último a entrar.
*Não há palavras para tanto sofrimento quando há tanto sofrimento sem palavras.
*Se os deuses soubessem o que se passa entre os humanos, não seriam deuses mas também não
quereriam ser humanos.
*Soldado de Esparta vai dizer aos teus chefes que o Continente já abriu. Perdeste a guerra.
*Um adjectivo agrediu um substantivo. A TLBS está a dirimir há tanto tempo o combate que tudo vai acabar num advérbio de modo.
*Não há nada como um assobio quando um surdo-mudo tenta desvendar os nossos lábios.
Pedro Castelhano em hora de pecado sem castigo.
domingo, janeiro 21, 2007
As Memórias de Edmundo Pedros
Edmundo Pedro, homem de elevada coerência cívica e intelectual, com uma vida inteira dedicada à luta pela liberdade e democracia, apresentou, dia 18 de Janeiro, o primeiro volume do seu seu livro de memórias "Um Combate pela Liberdade". Obra de referência para todos os que se interessam pela história contemporânea portuguesa, este livro vale também pelo exemplo de vida, que constitui a biografia do seu autor.
Preso pelo regime Salazarista quando tinha apenas 17 anos, foi deportado para o Tarrafal, juntamente com o seu pai . Ainda tentou, por várias vezes, fugir da prisão mas nunca conseguiu, só abandonando o campo de concentração, com o fim da II Grande Guerra, na sequência da amnistia de 1945. Regressou a Portugal com 27 anos, minado pela tuberculose, mas a sua vontade de lutar contra o Estado Novo não esmoreceu.
Participou nas revoltas de 1959 e do quartel de Beja, na sequência da qual foi preso e condenado a três anos e oito meses de prisão. Já, depois do 25 de Abril, desempenhou um papel importante na defesa da democracia, tendo sido a ele que, em nome do PS, o general Ramalho Eanes mandou entregar um lote de armas para defender as sedes do partido que estavam a ser alvo dos ataques da esquerda radical . A história não terminaria aí, valendo posteriormente a Edmundo algumas agruras e injustiças, que ele não mereceia. Hoje, tal como nesses tempos, Edmundo prefere manter o silêncio, que, np entanto, não esconde as mágoas que ainda sente: " o mal que me fizeram não tem remédio”, relembra amíude.
Não pude estar presente, por motivos profissionais, no lançamento do livro. Orgulho-me que ele o tenha feito. E mais do que isso, orgulho-me de ser Amigo deste Homem, que considero (e me considera) Irmão
Alcino Pedrosa
terça-feira, janeiro 16, 2007
Armando de Castro (1918-199)
Por aqui se tem falado de obras de referência. Aproveito o mote para falar de autores referência. Homens exemplares, paradigma de um modelo de cidadania, que ultrapassa em muito os constrangimentos políticos e ideológicos. Armando de Castro: anti-fascista, democrata, académico notável, investigador de créditos firmados; cidadão do mundo; exemplo de tolerância. Atributos que não são excessivos para qualificar este militante do PCP, que se assumiu como um homem de elevada coerência cívica e intelectual.
Na Universidade obteve uma formação histórica e jurídica e aprendeu a reflectir criticamente sobre a sociedade e o conhecimento. Estas linhas de rumo marcaram todo o seu percurso de cidadão e de cientista. Não teve outro objectivo, na sua investigação, que não fosse partilhar o seu saber, os resultados das suas investigações e as conclusões a que chegava.
Os seus trabalhos mais notáveis desdobram-se por três áreas científicas: a História, sobretudo a História Económica, a Economia Política e a Gnoseologia e Epistemologia.
Na história, ainda hoje constituem referência obrigatória a mais de uma dezena de volumes em que sistematizous os séculos XII a XV, bem como muitos outros trabalhos sobre o período restante, com particular destaque para os séculos XIX e XX, deixando em aberto o sonho de fazer uma história económica Portugal.
Na Economia Política, trabalhou alguns dos temas mais árduos dos seus fundamentos teóricos, tendo sido um dos pioneiros em Portugal no tratamento sistemático da teoria do valor, marcando, além do mais, uma época com os seus estudos sobre a inflação.
A Epistemologia, entendida como ciência do conhecimento científico, esteve sempre presente nos seus trabalhos de investigação. Ao fazer a história da Idade Média interroga-se sobre os rumos da investigação a fazer; ao estudar o fundamentos da Economia Política encontra as mesmas problemáticas. Em todos estes caminhos sempre esteve a par do que em Portugal e no Mundo se fazia sobre as problemáticas em que trabalhava, estando sempre aberto ao novo. Ou não tivesse sido Ele um cidadão com uma dimensão Universal
quarta-feira, janeiro 03, 2007
Em louvor do Rogério Rodrigues
"Gibbon
Se há livro de cabeceira - porque, em muitos sítios já não há cabeceira, nem mesinha-de-cabeceira - que me acompanha e que leio e releio ao acaso, sempre com enorme prazer, é a obra de Gibbon Declínio e Queda do Império Romano.
Há neste livro, obra magna de um académico e parlamentar inglês do século XVII (eu creio que é XVIII, mas...), uma escrita sobre a história, as suas personalidades e ventos, tão diferente no que se vê e considera importante que o livro imediatamente - à primeira frase - me retira com proveito do século XX. Flutuando por uma das escritas mais fascinantes da lingua inglesa, transportando-me para a história, ou seja, para o que não é do meu tempo. Há nas suas personagens - porque não se trata verdadeiramente de um livro de história, mas de um livro sobre o teatro da humanidade - uma dignidade antiga, que pode ser o teatro da humanidade -, uma dignidade antiga, que pode ser de todos os tempos, menos do nosso. Nós sabemos que é mais feita de ficção do que de realidade, porque também sabemos como já para o olhar de Gibbon também tudo aquilo pareciam «antiguidades».
É verdade que Gibbon estava no século XVIII (cá está, o século correcto...)a falar sobre os «Romanos», ou seja, sobre cerca de dois mil anos de história ocidental, e a nossa cabeça actualmente vive em 30 ou 40, e a nossa cultura mediática vive quanto muito ao ano, quando não é à semana. É verdade que, escrevendo essencialmente sobre o período do «declínio», Gibbon fala dos últimos mais de míl anos que vão dos Antoninos à queda de Bizâncio.
Mas já repararam que, habituados que estamos à precaridade do nosso tempo e à sua rapidez, é muito tempo? Que ainda havia «romanos», que por acaso eram gregos, quando se iniciaram os Descobrimentos? E que só passaram seiscentos anos - quase nada - desde que Constantino Paleólogo participou na última missa na Catedral de Santa Sofia, um ou dois dias antes de se tornar mesquita e ele desaparecer para sempre, talvez adormecido numa das muralhas da cidade? E já repararam que menos tempo nos separa da entrada triunfante de Maomé II - de quem Gibbon diz que, para além do turco, falava árabe, persa, caldeu, latim e grego - na cidade de Constantino do que os mil anos que tinham passado desde que os bárbaros entraram em Roma?
Em muitas páginas do Declínio e Queda, a nostalgia pelo passado, não com saudade - porque Gibbon sabia que esse passado era pior do que o seu presente -, mas como meditação sobre o tempo, é o principal pano de fundo onde se movem as personae. Mas o tempo, ou a história, se se quiser, é o principal actor quando Gibbon relata um diálogo ocorrido, no século XV, entre o «douto Poggio» e um amigo, dois romanos modernos, membros da cúria papal, que sobem ao monte Capitolino e contemplam as «ruínas de Roma». No meio do matagal estavam as velhas glórias de Roma, cobertas de vinhas, cercadas por quintais, já parcialmente integradas em construções modernas, para que as sólidas pedras de mármore eram roubadas. Porcos e bois passeavam no Fórum e o lixo cobria os bancos dos senadores. O tempo também a eles pregava partidas: tinham já passado mais de novecentos anos desde a «queda», e eles olhavam o fim do império com maior distância do que a que hoje nos separa deles.
O tempo é enganador quando ultrapassa as nossas vidas, e prega-nos partidas na memória. E nos tempos de «queda» ainda é mais enganador, misturando vencidos e vencedores, locais e batalhas, gente do seu tempo e anacronismos. Gente perdida pelo declínio, fora da sua terra e do seu tempo, resistindo a uma história impiedosa, como essas mulheres bizantinas, parentes da melhor nobreza imperial, vagamente recolhidas nos conventos quando escapavam de ir parar a algum hárem, tentando publicar livros em grego, manter a sua fé ortodoxa, salvar as relíquias de uma opulência passada, quando não resgatar os filhos e parentes, reféns do sultão ou de qualquer potentado menor da Sérvia ou na Trebizonda.
No Declínio e Queda são o tempo e a dignitas que me atraem, a maneira nobre e desprendida, com todas as qualidades, defeitos e paixões, como esses homens feitos em pó, sepultados não se sabe onde, passearam o seu amor pelos homens, pela história, pelas letras, pela lei, pelo vinho, pelas mulheres, pelos rapazes, pela música, ou mais comummente pela crueldade. Porque aqui a dignitas é também o tempo, porque a gente percebe logo que se trata de virtudes dos «antigos», que também já não há hoje, porque todos os tempos, menos o nosso, são clássicos. E era certamente o que Gibbon também desejava: em plenas luzes, descreveu uma história com demasiadas trevas, as do tempo que já passou."
Notabilissimo texto de José Pacheco Pereira, retirado sem autorização, mas com a devida vénia, de "Desesperada Esperança e outros textos", dado à estampa pela notícias editorial, no ano de 1999.
Em louvor do Rogério Rodrigues?...porque sei, de fonte segurissima, que aquele livro, o do Gibbon é também um dos seus livros de cabeceira.
Este post é uma espécie de prenda de ano novo para o
Rogério, com a suave esperança de:
1- O poder ler amiúde, na versão Pedro Castelhano ou na do próprio, neste Blog, que lhe deve o nome;
2- Que, um dia, me possa também assumir como leitor apaixonado, dleitado e agradecido da «Queda».
Albergaria
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