terça-feira, janeiro 16, 2007

Armando de Castro (1918-199)


Por aqui se tem falado de obras de referência. Aproveito o mote para falar de autores referência. Homens exemplares, paradigma de um modelo de cidadania, que ultrapassa em muito os constrangimentos políticos e ideológicos. Armando de Castro: anti-fascista, democrata, académico notável, investigador de créditos firmados; cidadão do mundo; exemplo de tolerância. Atributos que não são excessivos para qualificar este militante do PCP, que se assumiu como um homem de elevada coerência cívica e intelectual.
Na Universidade obteve uma formação histórica e jurídica e aprendeu a reflectir criticamente sobre a sociedade e o conhecimento. Estas linhas de rumo marcaram todo o seu percurso de cidadão e de cientista. Não teve outro objectivo, na sua investigação, que não fosse partilhar o seu saber, os resultados das suas investigações e as conclusões a que chegava.
Os seus trabalhos mais notáveis desdobram-se por três áreas científicas: a História, sobretudo a História Económica, a Economia Política e a Gnoseologia e Epistemologia.
Na história, ainda hoje constituem referência obrigatória a mais de uma dezena de volumes em que sistematizous os séculos XII a XV, bem como muitos outros trabalhos sobre o período restante, com particular destaque para os séculos XIX e XX, deixando em aberto o sonho de fazer uma história económica Portugal.
Na Economia Política, trabalhou alguns dos temas mais árduos dos seus fundamentos teóricos, tendo sido um dos pioneiros em Portugal no tratamento sistemático da teoria do valor, marcando, além do mais, uma época com os seus estudos sobre a inflação.
A Epistemologia, entendida como ciência do conhecimento científico, esteve sempre presente nos seus trabalhos de investigação. Ao fazer a história da Idade Média interroga-se sobre os rumos da investigação a fazer; ao estudar o fundamentos da Economia Política encontra as mesmas problemáticas. Em todos estes caminhos sempre esteve a par do que em Portugal e no Mundo se fazia sobre as problemáticas em que trabalhava, estando sempre aberto ao novo. Ou não tivesse sido Ele um cidadão com uma dimensão Universal

1 comentário:

Aqueduto Livre disse...

Caro Alcino,

Este teu texto, além de justo, é ajustado e recomendável.

Nas minhas errâncias pelo Porto, na década de 60 do século XX, durante as minhas deambulações estudantis e antifascistas "encontrei-me" algumas vezes com o Homem e com a obra de Armando Castro.
Encontrei-o, sempre humilde e sereno, num espaço de liberdade que dava pelo nome de UNICEPE (uma cooperativa livreira que acolhia reuniões, encontros e um ou outro colóquio...).
A memória que guardo de Mestre Armando Castro: sábio, tranquilo, rigoroso e, qualidade que não visitava os militantes comunistas,MODESTO,que é o contrário de sobranceiro e pesporrente.
Só não assino o teu texto por incompetência quanto à substância da obra cientifica que referes. Quanto ao retrato moral e cientifico...assino por baixo.

Albergaria