Contrariamente a um mito instalado, o sal e a pimenta não têm, ab initio, a intenção de fornecer sabores acrescidos aos alimentos.
A sua importância situava-se, antes da congelação e dos frigorificos, na necessária, quanto vital, urgência na preservação dos alimentos.
Daqui decorreu, durante anos, décadas, séculos mesmo, o enorme papel que o sal teve na nossa economia, nas nossas exportações, na nossa balança comercial.
A epopeia dos Mares, as descobertas, a Expansão marítima, assentou, precisamente, na demanda das especiarias, não para temperar, mas, ao invés, para preservar.
Hoje, o significado virou significante, alterou-se a qualidade da coisa.
Ao misturar o sal, a pimenta, nos produtos alimentares, naqueles idos do medievo, iniciou-se um processo de alteração nos sabores, na textura e no modo de degustar as comidas.
Hoje tem-se em conta o sal nas doenças do século: as hipertensões, os AVC, as maleitas das coronárias, o colesterol e tuti et quanti!
Mas este post não visa, longe disso, circundar a alimentação, os gostos e sabores e, menos ainda, perorar sobre saúde.
As relações humanas carecem, como aprendi nas teorias sobre comunicação e relações interpessoais, de uma dose de tensão, de conflitualidade, de algum sal e pimenta, que renovam e trasmutam as qualidades do próprio relacionamento, de amizade, de companheirismo, de camaradagem, de amor, até.
Quando a relação está confusa ou até mortiça, acrescenta-se um pouco de sal, pimenta a gosto e deixa-se (por vezes é aconselhável, em lume brando, para não se perderem os sucos e as propriedades das matérias primas...
Mas ele há casos, em que já não basta o sal e a pimenta. É necessário outro tipo de condimentos: humildade, frontalidade, lealdade, e, sobretudo, um entendimento universal sobre categorias que são "absolutos", sendo a AMIZADE um deles.
Basta de gastronomia!
José Albergaria
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