Texto publicado na Sábado de 29 de Maio p.p. e no Abrupto de 30 de Maio, hoje e assinado José Pacheco Pereira.. Suger~se a sua leitura integral, sobretudo o interessante a "lagartixa e o jacaré" dedicado ao taticismo do PCP e creio aí ter vislumbrado algum carinho e compreensão pelos comunistas portugueses!...Temos conversão à vista? Não o creio. Ou, talvez, na eventualidade do PSL ganhar a presidência do PPD/PSD isso possa vir a acontecer. O futuro a deus pertence. A seguir com atenção o percusoi no futuro imediato de JPP...
sexta-feira, maio 30, 2008
Dixit Pacheco Pereira!
Texto publicado na Sábado de 29 de Maio p.p. e no Abrupto de 30 de Maio, hoje e assinado José Pacheco Pereira.. Suger~se a sua leitura integral, sobretudo o interessante a "lagartixa e o jacaré" dedicado ao taticismo do PCP e creio aí ter vislumbrado algum carinho e compreensão pelos comunistas portugueses!...Temos conversão à vista? Não o creio. Ou, talvez, na eventualidade do PSL ganhar a presidência do PPD/PSD isso possa vir a acontecer. O futuro a deus pertence. A seguir com atenção o percusoi no futuro imediato de JPP...
quinta-feira, maio 29, 2008
Os laranjas vão a votos
quarta-feira, maio 28, 2008
O velho Soares e a sua, dele, recente, sensibilidadade para com os pobres!
terça-feira, maio 27, 2008
Ainda o Novo Aeroporto Internacional de Lisboa
segunda-feira, maio 26, 2008
Ainda Ossip E. Mandelstam
O judeu Mandelstam, "assassinado" por Staline num GOULAG qualquer, quase esquecido, deveria voltar a ser lido, relido, treslido, mesmo! E porquê? Eu ajudo:
"Siècle mien, ô mienne bête, qui saura
Fixer le fond de tes prunelles?
Qui de son sang recollera
Des deux siécles les vertèbres?"
Da sua prefaciadora em francês, Nikita Struve, do Le Bruit des Temps, roubo e traduzo:
"A prosa de Mandelstam é como que uma chuva de grãos que devem germinar no espirito criador do leitor.
Aprendamos com Mandelstam a arte dificil de escutar o ruido do tempo."
Neste tempo cadaveroso de desastres naturais, de fomes, de pandemias, de guerras inomináveis, de assalto à mão armada nos hidrocarburos e nos combústiveis deles derivados é bom escutar Mandelstam!
JA
domingo, maio 25, 2008
Ainda a sonorosa campanha "anti" GALP
sábado, maio 24, 2008
Frases vadias
"Nem tudo o que conta é contável. Nem tudo o que é contável conta.",
Einstein
"As pessoas toleram um engano, não toleram é ser enganadas.", De Gaulle.
"É próprio do homem comum ser exigente com os outros. Mas é próprio do homem superior ser exigente consigo mesmo.",
Marco Aurélio
JA
sexta-feira, maio 23, 2008
"Obviamente...expulso-o!"
Lá pelo PPD andam todos, ou quase, de candeias ás avessas!
Enquanto for assim, o PPD/PSD está transformado numa espécie de abono de familia para José Sócrates. Este agradece. Mas o país, esse, coitado, padece!
JA
quarta-feira, maio 21, 2008
EXPO 98: dez anos!
terça-feira, maio 20, 2008
Foi você que pediu uma ERC para a blogoesfera?
Não sei se Miguel Sousa Tavares defende a ERC ou não.
Não sei se MST defende a autoregulação.
Não sei se MST esteve atento à sentença, recente, do tribunal europeu para os direitos humanos, na qual condenou o estado português e os tribunais portugueses quanto ao julgamento do jornalista (actual director do CM e antigo sub director do Público) Eduardo Dâmaso. Aquele tribunal comunitário considera que não se privilegiou a liberdade de expressão, pilar essencial das nossas democracias e se considerou de mor importância o bom nome do político e de um modo enviesado e redutor o que deve ser, ou não, considerado de interesse público.
Interessante notar que, quase em simultâneo, um Procurador Geral Adjunto, na revista técnica da Procuradoria Geral da Républica, considerava que, os tribunais, em Portugal, tendencialmente, consideravam, nos pleitos jornalistas versus politicos, o interesse privado, particular em detrimento do interesse público e publicado, da liberdade de expressão.
Agora, MST, dá conta dum assunto que ocorreu num blog, duma senhora professora, a partir duma frase (que aquela lhe imputou)e como, a partir deste incidente, se desencandeou TODO um "movimento" tendente a um assassinato de carácter em que a vitima seria, obviamente,ele próprio, MST.
Na última edição do Expresso, de 17 de maio p.p.,na sua página habitual, MST dá conta do desconforto que este movimento lhe causou e aproveita para zurzir na blogoesfera (recomenda-se a leitura da opinião de MST)e de tal modo o fez que, fatalmente, iria criar "escola" na própria blogoesfera.
Já há, pelo menos, dois blog's a tratar do assunto...um, num sentido e, o outro num sentido que eu partilho.
O que se me oferece dizer sobre o assunto:
1- A blogoesfera é, de facto, um mundo libérrimo, plural e sem constrangimentos (nem politicos, nem económicos, nem sociais, nem ideológicos);
2- Rege-se, como todas as acividades humanas, pelas leis da necessidade e utilidade sociais e é condicionada, também, pelas leis de mercado (há blog's com muitos leitores; outros, nem por isso e, outros ainda têm de fechar badanas e janelas...);
3-Há blog's de referência, há blog's generalistas, há blog's especializados, há...;
4-Há gente como o Pacheco Pereira, o António Barreto, o Nuno Brederode dos Santos (antigo colunista do Expresso, "afastado" desse Semanário sem se perceber bem o porquê...Não foi, certamente, por falta de qualidade comentatória!),o João Paulo Guerra, o Pedro Santana Lopes, o Joaquim Vieira, Provedor dos leitores do Público, que têm banca na blogoesfera (há muitos mais, tão importantes quantos os destes nomes sonantes, mas que seria dispiciendo aqui listar)e para os seus blog's respectivos fornecem colaboração regular;
5- Há blog's, como o Generacion Y, duma cubana, que registou 4 milhões de visitantes em 2007 e, para cada post seu, recebe, em média, 3 mil comentários. Ganhou, recentemente, um prémio do El Pays, Ortega y Gasset, para imprensa na internet. A editora deste blog foi considerada pela revista Times entre as 100 personalidades com mais influência em todo o mundo.
MST pede (não tenho bem a certeza se é isto que quer, mas pareceu-me...)uma ERC para a blogoesfera!Sou contra. A auto regulação tem funcionado, e bem!A blogoesfera tem demonstrado que tal é possível e eficiente, sem penalidades, nem julgamentos, nem crispações. Cada bloger aprende a "defender-se" e a "atacar" com razoabilidade e bom senso. Assim pudesse ocorrer lá fora, no mundo do papel, das rádios e das tv's!
MST andou bem, parece-me, em relatar um caso, em que se fez "mau" uso da blogoesfera e em que o visado foi o próprio. Muito bem.
MST andou mal, quando, a partir deste incidente, entendeu dever atacar, à molhada, toda a blogoesfera.
Disse.
JA
PS - José António Soares de Albergaria
Residente em Loures/Lisboa/Portugal
BI - 712635
Trabalho em Amadora
Benfiquista
Ateu
Livre examinista
Esquerda, ex-comunista
Heterosexual
Email - josealbergaria@gmail.com
segunda-feira, maio 19, 2008
Ainda a carta apócrifa do Vice Almirante Rosa Coutinho
ERRADO!
De facto, creio que com data de 27 de Novembro de 1974, em diploma legal da Presidência da República, assinado pelo General Costa Gomes, era criado para Angola um Governo Provisório, com competências definidas e integrando a figura do seu mais alto responsável, em representação de Portugal: Alto Comissário. E nomeava-se, logo no mesmo diploma, o Vice Almirante Rosa Coutinho para ocupar tal cargo - mudando-se de Presidente da Junta Governativa para o nóvel cargo então criado.
O Vice Almirante Rosa Coutinho era, pois, Alto Comissário do Governo Provisório de Angola à data da carta apócrifa (22 de Dezembro de 1974). Foi-o durante pouco tempo:dois meses. Mas, o que é facto - é que o foi!
Aqui fica a correcção e o meu pedido de desculpas a TODOS quantos "acusei" de não terem feito os trabalhos de casa (no rol dos quais me incluia)e, nomeadamente, ao jornalista Joaquim Vieira, Provedor dos leitores do Público a quem dirigi o reparo e que, amavelmente, o publicou no blog do Provedor.
Um agradecimento ao Augusto de Sousa que, delicadamente, me forneceu a informação e me permitiu a correcção.
José Albergaria
sábado, maio 17, 2008
Da responsabilidade do historiador... e da "ininputabilidade" dos outros
Em França (sempre a França...eu, que sou francófilo não me importo nada)instalou-se uma bravíssima polémica: nos media, nos meios literários, nos jornais de todas as cores. Cientistas sociais, académicos, historiadores, medievistas encartados e, claro está, na blogoesfera francesa.
A razão, ou o pretexto, um livro publicado pela reputadíssima casa Le Seuil, na prestigiada colecção L'Univers Historique. O autor, Sylvain Gouguenheim; o titulo, Aristote au Mont Saint-Michel.Les racines grecques de l'Europe chrétienne.
O autor em questão vem duma familia de resistentes ao invasor nazi, é professor de história mediéval na École Normale Supérieure de Lyon, especialista em cavaleiros teutónicos, na mística renana e nas cruzadas do ocidente (problemática onde trabalha actualmente).
Que defende o nosso expert? Fá-lo sob a forma de pergunta: "E se a Europa não devesse nada dos seus saberes ao Islão?"
O nosso académico investigou, percorreu, a bem dizer, caminhos já percorridos, para anunciar que, quem teve a responsabilidade maior na tradução dos gregos, como Aristóteles, terá sido um tal Jacques de Venise, ligado à abadia do Mont S. Michel!...
Ora bem, os argumentos científicos que são esgrimidos por mais de um medievista (em França existem mais de 600 historiadores com esta especialidade) contra a postura de do Prof. Sylvain Gouguenheim (a partir daqui será SG) são tremendos e consistentes.
Mas o que está a adquirir um carácter dramático, a extravasar os meios académicos e científicos, é a acusação,sob a forma de Petição, subscrita, por 200 professores, ex-alunos da Escola de Lyon (onde é professor SG) de que o livro em apreço pode estar a esconder uma não "démarche" cientifica! Um colectivo internacional de 56investigadores em história e filosofia da idade média, vai no mesmo sentido. Mas,a acusação mais contundente é feita por um especialista francês que, sobre a obra em apreço refere: "Livro militante, que se debruça, à vez, sobre a história da idade média e a identidade cultural e religiosa da Europa. O projecto de conjunto é ideológico e apologético: ensaio ou panfleto, no qual o verdadeiro alvo é o diálogo entre culturas. A informação cientifica é selectiva. As teses novas já eram conhecidas. A [descoberta] de Jacques de Venise é um não-acontecimento." Quem afirma tal é um dos mais reputados (se não mesmo o maior!) especialista em filosofia da idade média, cultor do grego, do árabe, do latim e doutras linguas (coisa que não ocorre com SG, que não domina nem o árabe, nem o grego...), Alain de Libera.
Para complicar a polémica, Le Figaro, jornal de centro direita e, claramente eurocentrico e anti-Islão apoia a démarche de SG e coloca-a em linha com as declarações de Bento XVI produzidas na Universidade de Ratisbona a 12 de Setembro de 2006 em que terá então imputado ao Islão um carácter estrutralmente "violento" e, terá dito ainda, que "Foi na concha cristã medieval, fruto das heranças de Atenas e Jerusalem, que se criaram a Europa e o fundamento daquilo que chamamos Europa".
Para tornar tudo isto ainda mais denso e nebuloso é o que se pode encontrar na blogoesfera e na Internet. Num site xenófobo e anti Islão, Occidentalis, e que tem como lema "Pour que la France ne devienne jamais terre d'Islam", os aplausos e as citações, antes da publicação do livro - foram mais do que suficientes para lançar a suspeita sobre a obra de SG.
Ainda não li o livro de SG (esta polémicas obrigam-nos a tal...falo-ei dentro do possível a breve trecho), mas fica-me, desde já esta preocupação de Alain de Libera, à pergunta do jornalista de Le Temps:
- Pode-se, ou não, falar das raizes gregas da Europa cristã?
-O presidente Sarkozy fá-lo. Mas deviamos, sobretudo, interessar-nos, de modo critico, às transferências culturais, uma noção inventada na idade média, com o translatio studiorum erigindo o mundo carolingio contra Bizâncio, depois o reino de França contra o Império, e a Universidade de Paris contra o Inglês,e em únicos herdeiros legitimos de Atenas e de Roma. Estas filiações reinvidicadas são mitos fundadores permitindo, como num romance familiar, a construção duma identidade colectiva."
Num outro quadro, noutra polémica, a propósito dum esforço revisionista operado pelo historiador israleita Ariel Toaff, Sabina Loriga, Professora na Ècole des hautes Études en Sciences Sociales de Paris, na Revista des Annalles, de Fevereiro de 2008, colocava uma questão de mor pertinência para o historidor, para todos o historiadores: "pode o historiador fugir ao escrutínio ético e á avaliação política" daquilo que escreve e publica? Claro que não! Diz ainda a historiadora Sabina Loriga a propósito de Ariel Toaff que, mutantis mutandi, se aplicam a SG e ao seu livro, e di-lo bem, in fine, "um historiador não pode, pois, não deve, tratar as palavras como se elas não fossem que mero papel, como se elas não tocassem na vida."
Esta polémica é a seguir, mas importa centrá-la naquilo que é o seu pano de fundo: a intolerância que vagueia pela Europa e pelo mundo, tanto do lado cristão como do lado Islámico.
Veja-se o que anda na nossa blogoesfera e percebe-se que, muito poucos de nós (que tomam partido nesta questão Islão versus Ocidente, ficam bem na fotografia.
A visão redutora, que implica a existência dum inimigo mesmo que não tenha a intenção de nos ofender ou atacar ( o escolhido...)é "sempre" necessário - até para justificar o conceito estratégico de defesa (lembram-se das preocupações de Paulo Portas, enquanto ministro da defesa, sobre esta matéria...)de que os povos carecem.
Lembram-se, ao tempo da guerra fria o que ocorria deste lado e do outro da "cortina de ferro"?, NATO versus Pacto de Varsóvia! Qualquer dia, em breve, mais do que provavelmente, vamos ter saudades da guerra fria!...
Há esforços para que tal não venha a ocorrer,mas o terrorismo islamita, de guerra santa,saudita (?)não ajuda, muito pelo contrário! Os objectivos da ONU, no quadro do Diálogo de Civilizações, de que é Alto Representante o nosso Jorge Sampaio, pode insinuar tal intenção, desjo que tal confronto, em grande escala, não venha a acontecer. O que a administração Bush fez no Iraque...veio potenciar a atractabilidade dos fundamentalistas islámicos e venho engordá-los.
Em Portugal, neste frente da luta pela paz, há manifestções, pequenas, criteriosas, tanto no mundo dos académicos, como na sociedade civil (horrorosa designação, mas que dá jeito...às vezes)e no seio dos clérigos de que destaco a argúcia e a inteligência do padre Anselmo Borges.O dominicano Bento Domingues não se fica atrás, na coluna semanal que tem no Público.
Hei-de voltar ao tema e à polémica.
JA
quarta-feira, maio 14, 2008
Afonso Praça
Carta ao Afonso Praça
Caro Afonso Emílio:
escrevo-te depois de uma longa ausência, que cada vez será mais longa a ponto de se considerar interminável.
Não me tens telefonado e não te tenho telefonado porque, se porventura te encontrares em algum lado, será num lado onde não há telefones.
E agora vamos às notícias: amigos teus deixaram um rasto de saudade e ternura pelos jornais, espalharam a cinza das suas lágrimas por muitas palavras que resistiram à pressão do efémero.
Tenho seguido com atenção este caminho de reconhecimento e afecto. E nas suas palavras renasces, retirada a escória profana.
E surges como sempre te conheci: sem inimigos declarados, incapaz de levantar a voz, não sujeito aos pecados da cólera e da inveja, bem mais tolerante em relação à gula e à luxúria.
E há quem lembre os teus sofrimentos no seminário e na tropa. Mas registam com alguma surpresa que sempre mantiveste relações privilegiadas com gente da Igreja católica e da instituição militar.
Com algum sentido de humor, a tua sogra disse um dia: “Imaginem com quem as minhas filhas haviam de casar—com um Praça (Afonso) e um Tropa (Alfredo)”.
Conheci-te mal acabaras de sair do seminário e eras falado por todo o distrito de Bragança como o jovem que dominava o Latim qual Cícero e o Português como um padre António Vieira.
Era eu então um imberbe adolescente e mal imaginávamos que mais tarde, durante anos e anos, viveríamos juntos tantas horas e tantas noites.
De quando em quando atacava-nos a melancolia. A tua, mais suave e disfarçada; a minha, mais crua e descarnada.
Jantávamos e almoçávamos na Casa Transmontana, às Escadinhas do Duque. Mandávamos vir as alheiras de Moncorvo e tínhamos convencido a Teresa a ter também a ementa em mirandês. Por vezes cansada, deixava-nos a chave e ficávamos até de madrugada a esmoer histórias, numa prolongada digestão de afectos, com alguma crítica, pouca, de permeio.
Sabes? a Teresa está mal, vive com o Chico em Álvaro, uma aldeia da Beira Baixa, tem uma casa toda em granito, há muito abandonou o restaurante e a cidade, mas a Teresa está mal. Telefonou-me há dias e chorava de tanta solidão e doença.
E que saudades tínhamos nas longas noites do Snob e outros ínvios bares, esconsos, de africanidade –tu sempre tiveste uma sedução particular pelas mulatas – do nosso Trás-os-Montes que nos foi tão padrasto, mas que amámos tanto.
Tu ainda conseguiste arrumar as contas. Vendeste a casa no Felgar e fomos buscar a tua mãe a Poiares, para vir morrer junto de ti. Depois, compraste uma casa na Alentejo, na Igrejinha. Tu sempre foste o transmontano mais alentejano que conheci, até no modo como cortavas o pão, tasquinhavas o queijo e o presunto e contavas histórias, no ondular lento e melodioso da palavra, com o acento transmontano que nunca perdeste. Que o diga o Manuel da Fonseca, o teu dilecto parceiro de fins de tarde, nos tempos do República.
Mesmo a cidade está muito diferente, Afonso, desde que os teus amigos não conseguiram impedir que tu partisses.
Mas nós fizemos-te algum mal para partires assim?
A cidade, Lisboa que tu amavas tanto, fez-te algum mal?
O teu Campo Grande que tu olhavas olhando os montes e as pedras bem mais longe mas tão perto, o próprio Campo Grande já deu pela tua falta.
Já nem sei como está a Feira Popular, nem sei se o restaurante Mirandela ainda existe.
Fomos lá uma vez, a primeira em que a médica te obrigou a fazer dieta, porque a pele da tua cara, parecia um tambor.
Sentamo-nos. Era a tua última refeição antes de entrares em dieta.
“Não achas que se deixar de ser gordo, perco a graça toda?”
Confessaste-me já nos últimos dias antes da partida que estavas a preparar um conjunto de cartas românticas para mulheres sós. Escritas em linguagem adaptável à condição social e cultural de cada mulher imaginada.
Estou a ver o teu apego à ternura, o teu passar de mãe gorducha e lenta pelos cabelos cansados das mulheres sós.
Tinhas tanta capacidade e necessidade de pensar nos outros que às vezes te esquecias de ti próprio.
Vai longa a carta. Não quero que canses a vista. O teu coração está forte, como sempre. E mordo-to. Prometo-te que na próxima feira irei comprar uma corneta de barro. Se ainda houver oleiro na tua aldeia que faça cornetas de barro. Eu também quero ser o rapaz da corneta de barro. Um abraço do Rogério.
*Este texto foi publicado num opúsculo da responsabilidade da Câmara Municipal de Lisboa, em edição do Museu da República e Resistência, em homenagem a Afonso Praça.
segunda-feira, maio 12, 2008
Em louvor do Poder Local
O Poder Local tem sido sempre o objecto mais fácil de acusação. A irregularidade num conciurso público para uma calçada à portuguesa ganha foros de escândalo, quando uma OPA ou algumas especulações bolsistas, que envolvem milhões e milhões de euros, são apenas operações discutíveis ou de "risco"
Que o Poder Local alterou para melhor a fisionomia deste País, não restam dúvidas.
Quanto ao caciquismo é um mal endémico da sociedade portuguesa, e se aparece com maior evidência no Poder Local, é porque o espaço de poder é muito mais pequeno ( a questão da proximidade) e os seus agentes mais reconhecíveis ( contactam dia a dia com os seus munícipes).
Sem o Poder Local não teríamos muito do nosso património preservado, embora logo após o 25 de Abril, à semelhança do antes do 25 de Abril, muito património fosse maltratado e mesmo destruído.
A normalização democrática, uma maior e melhor informação sobre a importância do Património, levou muitas câmaras a arrepiar caminho,e a conservar o que resta da sua identidade.
Muitos amigos meus divertem-se com a minha apologia doPoder Local. Sendo originário de uma região abandonada do interior e vivendo numa cidade contígua a Lisboa, reconheço o esforço de ambos os municípios: o primeiro, para preservar a paisagem histórica e ambiental da vila; o segundo, para minimizar os crimes urbanísticos cometidos ao longo dos anos, impotente em ter um património histórico e ambiental, pelo menos desejoso de todos terem melhor qualidade de vida.
A corrupção na sociedade portuguesa é generalizada, como em qualquer democracia aliás, porque há liberdade de imprensa e liberdade crítica.
Já a corrupção não fiscalizada é pertença de regimes ditatoriais ou cleptocratas onde não há liberdade de imprensa nem liberdade crítica.
Se há corrupção no Poder Local? Claro que há. Qual é o sector da sociedade portuguesa onde não há corrupção?
E quando vemos a crescer, como cogumelos venenosos, grandes fortunas que não se sabe donde vêm ou como foram adquiridas, que reflexão nos pode provocar este texto de José AntónioCerejo em que reconhece, sustentado em dados, que a "esmagadora maioria dos presidentes de câmara" não enriquecem pelo e no cargo para que foram eleitos ?
Rogério Rodrigues
Maria Gabriela Llansol...minha "amiga"
domingo, maio 11, 2008
Já tomou o seu "Maio de 68", hoje?!..
Neste momento ele há mesmo gente que se zangou: "a partir de agora, só imagens e sons...opiniões, népia!". Ele há, mesmo, gente que perdeu a tramontana (sabiam que é quando, em rigor, se perde o Norte [não estou sequer a pensar nos 2 anos de propedeûtico aplicados ao senhor Jorge Nuno do FCP...] e a Estrela Polar!) e zurze, a torto e a direito, esgrimindo argumentos como quem lançava "pavès" no BouleMich - em direcção às cabeças dos CRS's!
Ultimamente, fui "apanhado": por dois textos deveras interessantes, por um "dossier" e, sobretudo, por uma "piéce de resistance" de se lhe tirar o chapéu.
O primeiro dossier, publicado pelo Público a 2 de Maio e coordenado por Miguel Gaspar; a "piéce de resistance", assinada no Expresso de dia 3 de Maio, por um dos mais atentos observadores dos acontecimentos (naquela época era jornalista na ORTF e delegado sindical dos Sindicato dos Jornalistas, nem CGT, nem FO, nem CFDT...independentes), José Gabriel Viegas, a que chamou "O Caminho das Utopias".
Os textos, surpreendentes:
1/ Numa recensão de Pierre Assouline, jornalista de le Monde e com um site e blog, La République des Livres;
2/ Num livro incontornável, CULTURA, de Dietrich Schwantnitz.
Comecemos por Pierre Assouline. O filho, Doug Headline, dum dos meus autores de culto (mas que não visito faz muito tempo...), Manchette, decide publicar, na casa Gallimard, as memórias que o pai deixou escritas, para ulterior edição. Pierre Assouline fez a recensão critica da obra.
É um pedaço dessa prosa que aqui deixo:"Six ou sept pages à peine. Ni plus ni moins. Six ou sept pages sur 635. C’est toute la place qu’occupe Mai 68 dans le Journal 1966-1974 (édité par son fils Doug Headline, Gallimard) de Jean-Patrick Manchette. Ce qui s’appelle remettre les choses à leur vraie place. L’impression est d’autant plus étrange que l’un des événements qui m’ont le plus marqué, non de ce moment-là mais de cette époque-là, c’est justement la découverte de ses romans Laissez bronzer les cadavres, L’Affaire N’Gustro, O dingos, ô chateaux !, Nada et, presque dix ans après, Le petit bleu de la côte ouest. Alors, son Journal en mai 68 ? “Bordel social et politique… grève générale… situation prérévolutionnaire” (23 mai) “Quant à la révolution, elle marque le pas. Elle est devenue triste. Les dernières émeutes sont vides de sens évident. Les syndicats négocient. Des élections législatives dans quelques jours. A quoi s’attendre ? Tout recommencera à l’automne, sans doute, s’il n’y a pas d’éléments nouveaux” (14 juin)… Les lendemains vont brailler sévère (28 juin)… La lutte électorale entre gauche et droite est dépourvue d’intérêt. La nouvelle révolution n’est pas en mesure à ce jour d’avoir d’expression électorale (29 juin)”. Voilà, c’est bien suffisant. De quoi ramener les événements à leur juste proportion, balayer l’infantile nostalgie soixantehuitarde qui encombre actuellement les librairies et passer à l’essentiel. " Disse...Pierre Assouline.
Agora vamos ao alemão, Dietrich Schwanitz. No livro acima referido, no capitulo V, dedicado aos grandes filósofos, ideólogos, teorias e representações científicas do mundo, ele dedica uma "entrada" à "Escola de Frankfurt - teoria crítica da sociedade". O Instituto de Investigação Social de Frankefurt, antes da 2.ª Guerra Mundial produziu notávies pensadores: Horkheimer, Adorno e Marcuse. Os dois primeiros voltaram, depois da guerra (aliás, como a judia Hannah Arendt) á Alemanha. Marcuse ficou nos USA. Afirma DS que, para além de Marx e Freud, foram estes pensadores que mais marcaram de modo inspirador as "revoltas" de Maio 68. Sustenta DS que os pensamentos de Adorno e Marcuse se contradiziam. A Adorno, DS, compara-o a Charles Dickens. Este, tal como aquele, nosso contemporâneo, defendia reformas e correcções, mas fustigava os lugares onde elas podiam ocorrer: as prisões, os hospitais, os reformatórios, as escolas, a burocracia. Adorno e Horkheimer teorizaram muito sobre o fascismo/nazismo. Fazem, de resto, uma abordagem singularissima na obra conjunta: A Dialéctica do Iluminismo. A racionalidade do iluminismo, por via da disciplina vai aliar-se a máxima irracionalidade e em cujo entrosamento com a violência mítica vai expressar-se de modo "espantosamente" evidente a fábrica de morte de Auschwitz! Este entrosamento atravessa toda a nossa cultura moderna, a nossa linguagem e os nossos sistemas simbólicos. Adorno não se implica na acção política dos estudantes e tornou-se até alvo das suas críticas, às quais vai mesmo sucumbir. Em 69 (segundo afirmam alguns) é vitima dum ataque cardíaco de consequências mortais...
Marcuse faz uma outra abordagem (inspiradora dos estudantes...de alguns, entenda-se, mas que ganharam preponderância na "condução" dos vários movimentos...), distinta daquela de Adorno. Este "americano" afirma que o capitalismo tardio assemelha-se ao fascismo na medida em que ambos congelavam os conflitos sociais e integravam a sociedade: mas aquilo que o fascismo tinha obtido pelo terror, este capitalismo conseguia-o pela manipulação universal através da industria cultural (este conceito é comum a TODOS os que integram esta escola de pensamento). Como esta metodologia é soporifera e transversal a toda a sociedade, Marcuse atribuia o papel de portador da acção revolucionária àqueles que ainda não se encontravam completamente formados e estupidificados: os estudantes!
Esta formulação deu várias teses e discussões que ainda, hoje, estão longe de estarem encerradas.
Adorno, permitia perceber que tudo se podia desmascarar como fascismo; com Marcuse podia-se sair dele.Com Adorno olhava-se para Auschwitz; com Marcuse, os estudantes fitavam para o futuro, sedentos de passarem à acção, animados pelo optimismo da riqueza. A escola de Frankfurt tentou operar a fusão entre o marxismo e a psicanálise, integrando conceitos de cada uma das teorias: latente, oculto, velado, recalcado, reprimido, mediata, etc. Adorno tem uma máxima, que é TODO um programa: "Não há vida verdadeira no falso." Jürgem Habermas, aluno e prócere de Adorno, vai operar, investigando as condições ideais para a comunicação, elevando-a a pressuposto transcendental da comunicação democrática (vidé Kant, com os seus imperativos categóricos...) uma fusão deveras interessante. Com esta atitude, Habermas aproximou-se da verdadeira função que a escola de Frankfurt teve na história da RFA: o nascimento de uma opinião crítica! Hoje a Alemanha, unificada, não se compreenderia sem o "apport" desta escola de Frankfurt , da reunificação por integração da DDR, industrial e desenvolvida culturalmente.
Esta é uma outra possibilidade de ir a Maio 68: pelo lado da filosofia, das linguagens, hoje completamente fora de prazo, mas ainda em uso pelos velhos activistas de Maio 68... espreite-se a nossa blogoesfera e percebe-se logo.
E o José Gabriel Viegas onde fica, no meio de tudo isto?
Num dos textos mais interessantes e sagazes de que tive conhecimento, permito-me citar o que ele remete para outros, para deixar o desejo de lerem a prosa, a dele mesmo, JGV:
"Maio também foi isso, milhentas histórias e anedotas de um periodo em que as pessoas se falavam e pareciam inusitadamente felizes. Um período muito especial e único, muito bem compreendido e descrito por (imagine-se) Maurice Grimaud, então prefeito da polícia de Paris: [ Maio de 68 foi o encontro - impossível em tempos normais - da frança de [baixo] e de uma parte das elites. Mais do que um grande protesto estudantil, foi sobretudo uma mistura incrível. Prémios Nobel desfilavam com Daniel Cohn-Bendit, quadros superiores ocupavam fábricas com operários, sindicatos de professores universitários eram solidários com movimentos contestatários(...)] Maio de 68 chegou a ser isso. O problema é que, como disse Pacheco Pereira, [num mundo menos tolerante e pobre, o adquirido de Maio de 1968 não sobrevive, nem em Paris, nem em Londres, Nem em Nova Iorque.É isso.]"
E mais não direi, nem citarei, nem apostrofarei, nem invectivarei quem quer que seja sobre o que ocorreu, nos meus verdes e sonhadores vinte anos, em Paris, no ano do senhor, de 1968. Por que, esse, foi o "meu" Maio de 68 e, por isso mesmo, de modo egótico, não o partilharei com quem quer que seja...excepto com Carolina, a minha "irmã" mexicana que comigo dividiu os infaustos acontecimentos de 1968, da Praça de Tlatelolco, ou das Três Culturas (asteca, colonial e moderna), ao tempo do Presidente Echevarria (quem fala nisto?...) e TODOS os sonhos do mundo que então nos habitavam!...
JA
sábado, maio 10, 2008
Ó Catilina... (1)
Palavras foram ditas por Bernardino Soares, líder parlamentar do PCP, no passado dia 8, no debate sobre a moção de censura.
Não fiquei perplexo nem apoplético. O Bernardino, de uma vez para sempre, abdicou da Revolução; prefere a Profecia. Trocou Marx pela Sibila.
É um homem sem dúvidas -- ele sabe de ciência certa ( da sua ciência da qual não se vislumbram os fundamentos, as investigações, os resultados eleitorais, a representação política), o Bernardino sabe, de ciência certa, que o País aprovaria a moção de censura que os seus representantes eleitos ( do país) na maioria reprovaram. O Bernardio sabe mais do Povo do que o Povo sabe do Bernardino. O Povo é essa identidade mítica e tão abstracta que se engana sempre: nunca se lembra que o PCP é também um partido, o melhor partido, o que lhe dá melhores garantias. Mas o Povo, essa nebulosa que inquieta os bernardinos, nunca escolhe o PCP como o seu representante mais confiável. Vá-se lá saber porquê.
Em Bernardino,o dogma e a fé falaram mais alto que o voto. Eu bem sei que dizem que a fé move montanhas, ainda que até hoje se desconheça por inteiro que qualquer fé, seja de que credo for, tenha movido montanhas. Mas o Bernardino sabe, e, sem dúvida, que o país aprovaria a sua moção de censura Há melhor argumento do que este: não ter dúvidas e ter o país inteiro por ele?
O Bernardino é assim: venham os amanhãs que a fé já cá canta.
Um acrescento: andam por aí línguas maledicentes a rumorejar que esta moção de censura foi um gesto público de aviso à CGTP para não ser conciliadora, nada conciliadora, na concertação social. O respeito é muito bonito e a autoridade do Bernardino é inquestionável.
Pedro Castelhano
quinta-feira, maio 08, 2008
Ó Catilina...
Acabou por avinagrar tudo e fazer subir os azeites às tolas mais consideradas como tolas ( o problema do acordo ortográfico: não sei quando é o ó ou quando se utiliza o ô).
O Pacheco Pereira não gostou que o plantador de couves não discutisse com ele as altas e pequenas instâncias de Fuerbach; o Santana Lopes teve arrepios de repentino cosmopolitismo, exacerbados pela infância na Avenida de Roma, quando as devotas e os devotantes militantes queriam que comesse carapau de escabeche no exacto tempo que se preparava perfumado e vagamente blasé, para uma directa na Lux; a Ferreira Leite, arrancada ao dormitar do seu tricot de números em ponto cruz, não gostou que a obrigassem a fazer contas em papel de embrulho, em feiras onde encontrava sempre o Paulo Portas, a vender enxadas, o último modelo, que este homem gosta de estar sempre " à último modelo" ( não fosse seu lema o provérbio popular: cada enxada cada minhoca).
Quanto ao Passos Coelho, também conhecido pelo PPC, anda à procura da juventude perdida, um Obama de saldo, com um pregador de ilusões e muitos perdigotos, tal qual Ângelo Correia.
Por Júpiter, não há índio para tanto Custer.
Não é que esteja muito interessado, à semelhança, aliás, do País.
Mas não há tanta tensão para tanta ilusão.
Estou a vê-los na televisão: a avozinha com voz de bruxa má; o menino-guerreiro com ademanes de gigolo de datado filme italiano; o ex-jovem com o pensamento engravatado de um bancário do BCP.
E como eles correm, discorrem e se socorrem do que há de mais comum no lugar!
Como os padres já não contam, que as homilias já pagam IVA ( e, se não pagam, deviam pagar) o melhor é contratar o Tony Carreira para uma sessão na Aula Magna da Reitoria, e o Marco Paulo para uma erudita reflexão, numa entremeada com Pacheco Pereira e Vasco Graçça Moura, para o S. Carlos.
A Gulbenkian já está reservada, há muito tempo, para um concerto de violinos de Santana Lopes.
E se não acreditam que isto pode ser real, porque é que hão-de acreditar que Ferreira Leite, Santana Lopes e Passos Coelho são reais?
Dizem-me, amigos avisados, que são hologramas do PSD.
Pedro Castelhano.
terça-feira, maio 06, 2008
De elo em elo até à "cadeia" final!
Há quem nos "mime" e, esses, são os amigos.
Há, ainda, quem nos tenha mimado no tempo certo e faz muito tempo: ao João Tunes nada lhe recuso.
Se fiz o caminho, este meu caminho, que ainda percorro, pelas veredas agrestes da vida, a ele o devo.
Ele sabe pouco disto que p'rá aqui estou a discorrer, mas é assim mesmo.
Portanto, aqui vai:
- Não me importo nunca de dizer a verdade;
- Não me importo nunca de "questionar" o falso;
- Não me importo nunca de assumir compromissos com a minha consciência;
- Não me importo nunca de dizer que não sou sábio, porque estou, sempre, a aprender;
- Não me importo de assumir, sempre, que a Liberdade, a Amizade, a verdade, são Absolutos;
- Não me importo nunca de assumir que as minhas certezas...estão prenhes de relatividade;
Aqui ficam 6 desafios:
- Dizer 6 coisas que não se importe de fazer ou de ter.
- Colocar o link da pessoa que o "mimou".
- Colocar as regras no blog.
- Desafiar 6 pessoas.
sexta-feira, maio 02, 2008
Ainda Musil: De La Bêtise IV
"On parle beucoup aujourd'hui d'une crise de confiance de l'humanisme, d'une crise qui menacerait la confiance que l'on a mise em l'homme jusqu'ici; on pourrait aussi parler d'une sorte de panique sur le point de succéder à l'assurance où nous étions de pouvoir mener notre barque sous le signe de la liberté et de la raison. Et nous ne devons pas nous dissimuler que ces deux concepts moraux - qui s´etendent à la morale de la création artistique: liberté et raison, concepts que l'âge classique du cosmopolitisme allemand nous avait légués comme critères de la dignité humaine, ont commencé,dès le milieu du XIXe siécle, ou un peu plus tard, à montrer des signes de décrepitude."
Robert Musil
De La Bêtise
Éditions Allia
JA
quinta-feira, maio 01, 2008
TOLERÂNCIA vs INTOLERÂNCIA no mundo da blogoesfera
Numa e noutra linguas, o significante e o significado são próximos. Do significado diz-se: suportar a dor, suportar algo de imaterial, intelectual, de espiritual.
É uma dor que se sofre e que está, sempre, no dominio do espirito.
Portanto, uma pessoa tolerante é aquela que consegue, provavelmente, com estoicismo "suportar" a dor... O intolerante, obviamente, é o que se encontra nos antípodas desta capacidade.
É, pois, por isso que os "bons" cristãos, os bons "maçons", os bons "políticos", os "bons" clérigos (de qualquer igreja que consideremos...), os "bons" mestres, os "bons" professores...os "bons" qualquer profissão e/ou estatuto social que tenham são, SEMPRE, tolerantes.
Ultimamente, tenho frequentado muito BLOGUE, muito escrevinhador, comentador, arguentes de causas, ficcionistas, opinadores, comentadores, ajustadores de contas (próprias ou alheias...), que andam pela blogoesfera e o que tenho encontrado (na maioria dos casos...) é uma enorme intolerância.
Às vezes a roçar a campanha ad hominem ou até ad nauseam!
Isso desconforta-me? Claro que sim.
Hoje, neste patamar da minha vida em que me encontro (como diz o Mario de Carvalho do personagem da Sala Magenta: "Ele está está já na fase dos balanços. O que fez e aquilo que deixou de fazer; os afectos que não consumou; uma boémia inconsequente que praticou...em detrimento duma ocupação do tempo mais consistente..."), além dos balanços que me recuso a fazer (tenho muitos projectos para o futuro...), sinto-me apaziguado, bem de familia, mal de dinheiros (é um estado recorrente), tranquilo, conseguindo olhar o mundo com realismo, mas ainda assim com pragmatismo e, HOJE, como uma capacidade de historiador ISENTO, só me interessando a VERDADE e nunca procurando que a REALIDADE se ajuste á minha IDEOLOGIA ou à minha OPINIÃO, construida, sabe-se lá como. Olho o mundo sem cinismo, com optimismo (partindo do pressuposto que o optimista é, nem mais nem menos, que um pessimista bem informado...).
Há muitos bloguistas com preocupações em terem RAZÃO, incapazes de ouvir o outro, incompetentes para integrarem, no seu próprio pensamento, ou até nos seus afectos - a verdade do outro e o sentir do outro.
Neste MUNDO, na TERRA, na HUMANIDADE, onde impera o principio da incerteza, neste outro território, a blogoesfera encontrámos (encontro eu...) cada vez mais gente CONVENCIDA, sabendo TUDO e...sobre TUDO!
Têm opinião definitiva sobre a ECONOMIA, sobre os CONFLITOS REGIONAIS, sobre os USA, sobre ISRAEL, sobre o IRÃO...e tuti et quanti...
E sobre Portugal?! Sobre este tópico, então, é de nos levarem às lágrimas: têm opinião sobre, absolutamente, TUDO. Emerge uma crise no PPD/PSD...antecipam logo tudo o que vai acontecer e, sobretudo, como vai acontecer...
E a ética?! Ui!, Ui! Neste território é o deserto completo e, a má-fé, muitas das vezes, campeia de modo impúdico e delirante.
Veja-se o que ocorreu, faz pouco tempo com um "incidente" em que foi protagonista maior o colunista (publicista, como gosto de escrever e dizer) António Barreto.
O homem utilizou um documento apócrifo, propaganda "negra" pura, cujo "autor" seria o vice almirante Rosa Coutinho, datado de 1974.... e de Angola. "Milhares" de bloguistas exigiram que AB se retratasse, que pedisse desculpas. AB demorou a fazê-lo e, nesse interime, bloguistas houve que o enforcaram, o despacharam para as profundezas do inferno...Entretanto o homem, AB, pediu desculpas, em primeiro lugar ao Almirante Rosa Coutinho e, depois, no mesmo espaço que utilizou para argumentar a partir do documento apócrifo, pediu desculpas aos leitores do Público!
Quem, na blogoesfera, sublinhou esta atitude?! Sobram os dedos duma das minhas mãos para contar os que tal fizeram. Mesmo aqueles que apoiaram AB, considerando que a "carta" do vice almirante Rosa Coutinho só podia ser verdadeira, porque....porque sim, se excusaram a fazê-lo.
Pouca gente sublinhou este facto, que eu reputei de importante e em linha com os saudáveis principios da democracia, da nossa democracia ocidental e liberal!
Sustento eu que, uma boa polémica (mesmo até uma má...) é sempre saudável: faz bem aos neurónios e obriga-nos (ao modo do filósofo Sócrates...) a treinar o nosso argumentário. Não é por aqui que se faz a minha critica. É, outrossim, pelo lado da impunidade, da ausência de pudor, da vaidade, da estupidez e da humildade.
Quando alguém comete um erro, ou faz um disparate ( e se esse alguém tem o estatuto de AB, mais grave a coisa se torna) deve ser zurzido e vergastado. Mas, logo que esse alguém corrige, emenda a mão e se auto-critica, deve ser saudado e aplaudido. Eu fi-lo.
JA