Foi uma espécie de raio, relâmpago, trovão.
A escrita de Gabriela Llansol é da dimensão, p'ra mim, da revelação.Por isso a cultuo, hoje, amanhã e, certamente, sempre!De "O RAIO SOBRE O LÁPIS", aqui ficam as suas palavras:
" ainda mais tarde
estou em Ur, sentada próximo de tapetes variados de
flores,
e ora leio Hölderlin, ora anoto o que estou a escrever
aqui.
Isolda, a cadela preta de pêlo curto, chega, e eu sei
que ela vai atacar a minha imobilidade. Ocorre-me a
ideia de não fazer o mínimo movimento, de lhe não pres-
tar atenção. O meu eu está ausente do espaço em que
está presente.
Se me mover na direcção dela, crio-lhe um laço co-
migo; sem culpabilidade, atiro-lhe a minha indiferença
ao focinho, e o estratagema dá resultado. Mas, a seguir,
eu sente-se triste, é essa resposta nostálgica que me traz
o meu corpo. perdi, nesse instante, uma parte da terra.
Fiquei só, na pura actividade de poder; ainda bem que
não estou sempre a ________, senão rapidamente che-
garia à morte; quando escrevo, o tempo retrai-se com
violência, involui num único instante,
e o ardil da pedra surge."
Maria Gabriela Llansol
O RAIO SOBRE O LÁPIS
ASSÍRIO & ALVIM
2004
JA
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