Em poste anterior discorria, eu, sobre interesses repentinos, serôdios e até desconcertantes sobre os pobres e a pobreza em Portugal e, a linhas tantas tropecei num poste do João Tunes:
1/ "O que continua a surpreender em Manuel Alegre é a sua capacidade de irritar, irritando sempre mais e alargando permanentemente o leque dos irritados. A alergia relativamente a Alegre contamina hoje, nas esquerdas, muita e variada gente, cada vez mais gente e gente que, objectiva e subjectivamente, só contra Alegre se consegue identificar como sendo da mesma margem da política. Usando os mais díspares argumentos mas confluindo na rejeição de Alegre, na depreciação de Alegre ou na subestimação de Alegre, aqui lavrando no erro de o julgar fácil de calar. Porque em Alegre, cada vez mais, há sempre qualquer coisa para embirrar, seja de fundo ou de pormenor. Talvez passe por aqui o germinar da unidade operacional da esquerda, das esquerdas, destas esquerdas sedentas de uma irritação comum de estimação que as (re)mobilize. Se tanto conseguir, Manuel Alegre, em exemplo de simetria carismática por uma unificação de rejeições de que nem Sócrates se conseguirá gabar, poderá rir-se de ter desempenhado um útil papel para que as esquerdas se unam e decidam governar pela esquerda, afastando, finalmente, o pesadelo incómodo que, volta e meia, lhes invade o sono da inércia do equilíbrio impotente entre as vetustas incompatibilidades. Façam-no e, estou certo, Alegre vai deixar de irritar. " João Tunes
Decidi, no meu poste comentar este outro do João Tunes:
2/" Entretanto, ia este meu poste já longo e vem o João Tunes e zás: "Ponham a mesa e sirvam-se!"diz o João Tunes - que anda toda a gente irritada com o Manuel Alegre e, cada vez mais. Sugere mesmo (se bem entendi...) que se possa, em torno da irritação em crescendo e em torno do poeta, criar uma plataforma de entendimento entre as várias esquerdas...percebi bem? Não tenho a certeza. Vai daí fui ao Dicionário da Língua Portuguesa editado pela Academia das Ciências e, no brevete irritação encontro o seguinte:1.Estado de pessoa perturbada, enervada por algo que a contraria ou incomoda e que tende a manifestar-se de forma agressiva;estado de irritado. Agastamento. O discurso demagógico e repetitivo do orador causou-lhe tal irritação que por pouco não lhe gritou que se calasse.(Fernanda de Castro, Raiz, p. 26).Ora aqui está uma "trouvaille": a IRRITAÇÃO como Plataforma, doutrina, ideologia, programa, logótipo e, mesmo até, campanha eleitoral. Que líder para dirigir este Partido (sim - porque é preciso um partido!)? Claro, o irascível, o colérico, o exaltado vate, o aristocrata, o sereníssimo príncipe: Manuel Alegre! "O sabão irrita a vista. O fumo irrita a garganta. A pele irrita-se com detergentes." O Manuel Alegre consegue irritar TODA a esquerda portuguesa! É obra!" Zé Albergaria
O João Tunes adendou, ao seu poste, o comentário àquele, meu:
3/ "Adenda: Não Zé Albergaria, não entendeste o que escrevi quando me colocas como defensor da ideia “que se possa, em torno da irritação em crescendo e em torno do poeta, criar uma plataforma de entendimento entre as várias esquerdas...”. O que aventei foi o contrário, a factibilidade, por simetria de dinâmica de irritação, de um projecto a modos que unificador, mas contra o poeta, usando o poeta como bode expiatório (não é para isso que servem os poetas?), que inclua um leque de convergentes com o Zé Casanova, o Zé Lello, o Zé Saramago, o Zé Sócrates, o neófito Zé Miguel Júdice, todos os Zés de esquerda, mobilizando o Zé Povinho para a “esquerda unida”. Quanto à ideia de que acredito em algo construído “em torno do poeta”, pensava eu que soubesses que se gosto de “entornar” - sem excessos que tirem o paladar, o odor e o gosto, matando a sensualidade do vinho -, procuro, para isso, o bom se não puder ser o melhor. Não propriamente pelo néctar mas mais pelo "resveratrol", pois a idade não perdoa. Saber sobre a minha pessoa não adianta grande coisa, tempo perdido será, mas, sabe-lo bem, de um amigo tudo se espera." João Tunes
Tinha prometido uma penitência: aqui vai ela.
Quando se lê depressa e mal, arriscámo-nos a borregar. Foi o que me aconteceu.
Depois, e ainda, esta mania, este tique malfadado, de procurar, como diz a Julia Kristeva, intertextualidades naquelas narrativas que se lêem: só podem dar em desastre, as mais das vezes.
O João, sempre arguto, rigoroso e atento, percebeu que o meu exercício sofreu desse pecado maior, acrescendo um outro: o nosso mútuo conhecimento interveio (sem que eu me desse conta...mas interveio)levou-me a ter como assente, de ciência certa e exacta, que tinha percebido o pensamento e a posição do meu amigo.
Puro e doloroso erro!
Puz-me a jeito e levei com a vergasta da Adenda do JT:"Não Zé Albergaria, não entendeste o que escrevi...".
É da vida.
Mas não me fica mal reconhecê-lo por que, o João Tunes, merece-o; por que, o João Tunes, é credor da minha consideração e respeito intelectuais;por que, o João Tunes, é homem de muito saber e erudição e, por que, o João Tunes, é meu particular, velho, estimado e venerado amigo e, como ele diz, e bem:(...)" dum amigo tudo se espera."
Aqui fica o reparo e a penitência.
Zé Albergaria
NB - Imagem fanada ao JT no Água Lisa6.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário