Mulheres férteis, como elas caminham pelos caminhos secos!
De pernas robustas e seios amplos, de mãos fortes, transportam pesos antes de anoitecer.
Falam que ninguém as entende. São de outro tempo. Mulheres férteis e parideiras, na quietude das montanhas. À noite, suadas, regressam a casa. Sem alegria, mas pedaços de carne aos gritos que o cansaço amortece.
Revoltas no tempo, continuam férteis, mas já usam óculos de sol, roupas justas e adivinham e provocam o prazer da sedução nas esplanadas. Já são outras, sendo as mesmas. Já carregam sacos plásticos de supermercado, à falta de outros pesos: a merenda para a segada, o cântaro para a água. Só as mãos continuam rudes e ásperas, mesmo quando cobertas de anéis. Anos a lavar escadas e roupa em urbes estranhas e longínquas. Femmes de ménage.
Mas são mulheres férteis, ainda que depiladas e com idas ao cabeleireiro. A terra já lhes e os áridos caminhos foram substituídos por áridas e negras estradas. Já não se lavam no rio, e já foram à praia.
Mulheres férteis do meu país, corpos espessos e pesados, no meu imaginário de criança.
'Ó virgens que passais ao sol poente/ pelas estradas ermas a cantar.'
António Nobre já não mora aqui.
Desenvoltas, as mulheres do meu país apreciam mais o Tony Carreira e Quim Barreiros e enternecem-se com os filhos a falar o francês dos pobres, aprendido nas periferias de Paris.
Melhor as férteis que as fúteis. E ei-las que partem reconciliadas com o passado porque já o esqueceram.
Rogério Rodrigues
sábado, agosto 23, 2008
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