quarta-feira, agosto 06, 2008

O Gato







Alexandre O'Neil é um dos mais irrequietos, introspectivos e irónicos poetas do nosso literário século XX.

A sua qualidade é incontroversa, mas não está na moda. O que me penaliza particularmente. Para o recordar aqui deixo um poema singular desse espantoso lisbia:



Gato


Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!


De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?

(Alexandre O'Neil)

JA

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