Paul Ricoeur foi, provavelmente, dos filósofos mais produtivos, criativos e sólidos do século XX. Nas academias francesas, alemãs, suiças e americanas sabe-se quão importante ele foi.
Em Portugal não tenho a certeza do que pensam os entendidos.
Sei que o o professor Fernando Catroga, uma das nossas mais luminosas cabeças da historiografia actual, versado numa multitude de assuntos, desde a maçonaria, passando pela morte, até à epistemologia da história, o considera sobremaneira e o cita com assiduidade.
Dum texto saído duma conferência feita em Lausanne em 1985, Le Mal, deixo um pedaçito para aguçar o apetite:
" I . A experiência do mal: entre a censura e a lamentação
O que faz o carácter de enigma do mal é o facto de nós colocarmos sob uma mesma expressão, pelo menos na tradição do ocidente judeo-cristão fenómenos tão dispares, numa primeira aproximação, como o pecado, o sofrimento e a morte.Podemos mesmo dizer que é porque o sofrimento é, constantemente, tomado como termo de referência que a questão do mal se distingue da do pecado e da culpabilidade. Antes de se afirmar o que, no fenómeno do mal cometido e do mal sofrido, aponta em direcção dum enigmática profundidade comum - é preciso insistir na disparidade do principio.
No rigor do termo, o mal moral - o pecado em linguagem religiosa- designa o que faz da acção humana um objecto de imputação, de acusação e de censura."
JA
3 comentários:
A questão do Mal é uma questão que em tempos me interessou. Não estou capacitada para discutir o assunto, mas gostei de o revisitar agora, com este seu post!
:)
Caríssima,
Paul Ricoeur é, actualmente, o meu filósofo de cabeceira. É, de facto muito proficúo e subatantivo. Responde a muitas das minhas inquietações presentes.
No entanto a questão do mal, da banalização do mal foi espantosamente bem tratada pela Annah Arendt, judia, discipula de Heidegger, exilada durante a 2.ª guerra nos USA, retornando, após, à Alemanha...
Abraço.
Zé Albergaria
Obrigada! Na altura não "quis" aprofundar demasiado o assunto. Explico-me: partia da minha experiência pessoal! E, há coisas que é preciso dar um tempo para as "estudarmos " já fora de nós. Senão, a compreensão que deverá ser motivo de tolerância (largueza de entendimento) é mais um passo para sentir o peso do mal que sentimos.
Este seu estímulo, dado o tempo, pode bem ser um começo para retornar ao assunto, com outras possibilidades da minha parte!
Tomei nota das referências!
Obrigada
:)
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