sábado, julho 26, 2008

ALDA LARA, poeta angolana.


"ALDA LARA (1930-1962)Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque. Benguela, Angola, 9.6.1930 - Cambambe, Angola, 30.1.1962. Era casada com o escritor Orlando Albuquerque. Muito nova veio para Lisboa onde concluiu o 7º ano dos liceus. Freqüentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última. Em Lisboa esteve ligada a algumas das atividades da Casa dos Estudantes do Império. Declamadora, chamou a atenção para os poetas africanos. Depois da sua morte, a Câmara Municipal de Sá da Bandeira instituiu o Prêmio Alda Lara para poesia. Orlando Albuquerque propôs-se editar-lhe postumamente toda a obra e nesse caminho reuniu e publicou já um volume de poesias e um caderno de contos. Colaborou em alguns jornais ou revistas, incluindo a Mensagem (CEI). Figura em: Antologia de poesias angolanas, Nova Lisboa, 1958; amostra de poesia in Estudos Ultramarinos, nº 3, Lisboa1959; Antologia da terra portuguesa - Angola, Lisboa, s/d (196?)1; Poetas angolanos, Lisboa, 1962; Poetas e contistas africanos, S.Paulo, 1963; Mákua 2 - antologia poética, Sá da Bandeira, 1963; Mákua 3, idem; Antologia poética angolana, Sá da Bandeira, 1963; Contos portugueses do ultramar - Angola, 2º vol, Porto, 1969. Livros póstumos: Poemas, Sá da Bandeira, 1966; Tempo de chuva, Lobito, 1973.
Da poeta angolana, escolhi o poema Testamento, extraído do livro Poesia Africana de Língua Portuguesa, p. 67-68. Organizado por Maria Alexandre Dáskalos, Lívia Apa e Arlindo Barreiros. Publicado no Rio de Janeiro, por Lacerda Editores em co-edição com a Academia Brasileira de Letras, em 2003.
TESTAMENTO
À prostituta mais nova
do bairro mais velho e escuro,
deixo os meus brincos, lavrados
em cristal, límpido e puro...


E àquela virgem esquecida
rapariga sem ternura,
sonhando algures uma lenda,
deixo o meu vestido branco,
o meu vestido de noiva,todo tecido de renda...


Este meu rosário antigo
ofereço-o àquele amigo
que não acredita em Deus...


E os livros, rosários meus
das contas de outro sofrer,
são para os homens humildes,
que nunca souberam ler.


Quanto aos meus poemas loucos,
esses, que são de dor sincera e desordenada...
esses, que são de esperança,
desesperada mas firme,
deixo-os a ti, meu amor...


Para que, na paz da hora,
em que a minha alma venha
beijar de longe os teus olhos,


vás por essa noite fora...
com passos feitos de lua,
oferecê-los às crianças
que encontrares em cada rua...

Postado por zantonc "
Meu leitor, do Rio de Janeiro, poeta e Professor de literatura, Zantoc de seu nome de guerra na blogoesfera mandou-me o endereço de dois blogues seus.
Um, "Poemargens, onde publica "indiscriminadamente", sem critério aparente, poesia da lusofonia, da Hispânia e da latino América.
Voltarei mais vezes ao seu convivo e, em breve, à sua voz poética, bem interessante por sinal.
Hoje deixo aqui este poema impressivo, duma poeta angolana, falecida, prematuramente...
JA
PS - O texto, entre aspas e que encima este poste é da responsabilidade do meu recente amigo Zantoc.

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