Creio que, no seu poste e no fundamental, Vítor Dias tem razão.
Como existe uma Carta Fundamental dos Direitos Humanos, deveria (essa é a proposta de Vítor Dias) haver uma Carta dos Direitos dos Mortos: dos que foram mortos em Estalinegrado, em Leninegrado, mas também dos que foram trucidados, varridos, em Dresden, em Tóquio, em Hiroshima, em Nagasaki, em Berlim, os milhões de mortos sem nome ao tempo de Estaline, as centenas de milhares que foram vilmente assassinados por Pinochet no Chile, por Varela na Argentina, por Somoza na Nicarágua, por Franco na Espanha, por Salazar (isso tratamos todos nós, mas mal...), por Pol Pot no Cambodja, pelo actual regime chinês... e a lista é infinda.
Estou de acordo com Vítor Dias quando afirma que os militantes de esquerda assassinados pelos paramilitares e pela policia de Uribe (se foi o caso do militante do Pólo Democrático, autarca de Bogotá e sindicalista Fúquene) devem merecer a solidariedade de todos os amantes da liberdade e dos direitos humanos. Não posso estar mais de acordo com Vítor Dias.
No entanto acho que Vítor Dias está a exigir a Lua a Ingrid Betancourt, quando lhe pede que seja, também, a voz desses militantes de esquerda, democratas, assassinados. Que tome voz explicita por eles.
Ingrid saiu dum longo cativeiro nas intrincáveis florestas colombianas, às mãos duma formação marxista-leninista, durante muito tempo braço armado do PC da Colômbia. Pedir-lhe que assuma, para além das dores dos seus outros (parece que são centenas...) companheiros de cativeiro, as dores dos militantes de esquerda...não sei. Parece-me, talvez, um pedaço excessivo.
No entanto, o que consegui, ontem, na RTP1 perceber do discurso que Ingrid Betancourt fez em Paris é que ela fez um apelo sentido, genuíno, "à Paz e concórdia entre TODOS os colombianos, para que seja possível viver-se naquele pedaço de mundo" (as palavras não serão estas, rigorosamente, mas o sentido foi-o de certeza).
Pediu para que se terminassem os sequestros, os raptos, os assassinatos e para que as armas se calassem...isso eu ouvi.
A Colômbia, como já o escrevi é uma equação a muitas, mesmo muitas incógnitas. Provavelmente, não terá mesmo solução.
Ingrid Betancourt parece-me, genuinamente e com um capital político invejável para o fazer, empenhada em encontrar uma saída, em concórdia, pacifica, para a Colômbia.
Eu quero acreditar que assim é. Para já, não tenho razões nenhumas para duvidar que assim não é.
José Albergaria
1 comentário:
...Por exemplo essa Betancourt, embora seja pomposamente descrita como franco-colombiana, quiçá até mais franca que colombiana, é óbvio que nunca leu Camus; e se ler, os ossos de Camus vão ranger no túmulo.
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