sexta-feira, julho 04, 2008

Farc or not farc

Tenho lido com algum cuidado as reacções do PCP e do próprio Bloco de Esquerda sobre a libertação da Ingrid e outros reféns que até poderiam ser da CIA, da força repressora do Exército colombiano e sei lá o que mais. E o que me incomoda é que, apelidando o regime de Uribe de fascista, se possa aceitar ( pela omissão, pela vergonha da omissão) que pessoas, sejam elas quais foram, sejam raptadas. Se me disserem que é necessário protestar contra a morte de um sindicalista, seja pelo regime de Uribe, seja por outro regime, contem comigo, mas também exijo, como cidadão, democrata, de esquerda, que todo e qualquer rapto, toda e qualquer manifestação de força arbitrária facea um indivíduo ( seja ele qual for), todo o acto que viole os Direitos Humanos, o direito de defesa e de liberdade, também exijo que estejam do meu lado e condenem. E nesta condenação são contempladas as FARC, como força terrorista que se alimenta da cultura do narco ( dir-me-ão, também outras forças, mesmo as de Uribe se alimentam de tal, pois bem, condenemos Uribe, mas nunca deixemos de condenar as FARC), do "imposto revolucionário", da chantagem e de tudo o que há de mais degradante na luta política. Que eu saiba, o PCP foi sempre contra a luta armada, com o PC boliviano a abandonar Guevara, a condenar movimentos como as Brigadas Revolucionárias e as FP-25, bem mais pacíficas e com um ideário político bem mais definido que as FARC. Nunca o PCP aceitou como solução política a acção directa, nem o putchismo.. As FARC, além de ser anti-democráticas, são qualquer coisa de anti-leninista. Hoje, como aconteceu em outros grupos inicialmenete com uma génese revolucionária, não passam de mercenários que vivem do negócio do narco e do negócio do sequestro. Não lhes conheço qualquer ponta de ideologia, nem lhes reconheço qualquer respeito pelos direitos humanos. Só me falta ler um dia nalgum comentador do PCP que os direitos humanos não passam de uma imposição burguesa. A nota "informativa" do PCP é um exemplo da maior incomodidade e hipocrisia a que me foi dado assistir nos últimos tempos. Se de um lado há fascismo, mas é o lado de que nós não gostamos, o fascismo dos outros é compreensível. Esta visão primária só o Jerónimo de Sousa ou Bernardino Soares é que a podem aceitar. Porque é que não perguntam ao Manuel Gusmão, por exemplo, entre outros, o que pensa das FARC e desta libertação?Omitir o grande gesto que foi esta libertação, só por que foi do Governo de Uribe ( eleito, por muito que nos custe), de que também eu não gosto, e não condenar as FARC
leva-me a pensar que o PCP está mais preocupado com os agentes do que com os actos. E quando na próxima Festa do Avante! aparecer uma representação da FARC, convidada pelo PCP, não me venham dizer que se trata do sector político daquela organização terrorista. Até a hipocrisia tem um limite. Um pouco de respeito pelos outros não fazia nada mal.

Rogério Rodrigues

1 comentário:

Anónimo disse...

Escreve Rogério Rodrigues que «E quando na próxima Festa do Avante! aparecer uma representação da FARC, convidada pelo PCP, não me venham dizer que se trata do sector político daquela organização terrorista».

Preferia imaginar Rogério Rodrigues como uma vitima da formidáVEL OPERAÇÃO DE «INTOX» que fez crer que as FARC tinham sido convidadas e estado na Festa do Avante.

Que apresente provas quem for capaz de contestar que da Colômbia quem esteve na Festa do Avante foi unicamente o Partido Comunista da Colômbia, que não pode ser considerado o braço politico das FARC, que é um partido plenamente legal e que integrou a coligação de esquerda que nas últimas municipais ganhou a capital Bogotá.

Se não forem capazes de demonstrar o contrário, como podem continuar com a cantilena interminável da presença das FARC na Festa do Avante ?.