quinta-feira, julho 10, 2008

O Humor: essa insustentável leveza literária.

A revista francesa "Magazine Littéraire" de Julho-Agosto de 2008 publica um interessante, quanto desconcertante, dossier sobre o Humor (no sentido que os ingleses lhe atribuem)e a literatura.

"O humor é aquilo que resiste ás dores, que escapa às malfeitorias: à Morte (um supino remédio contra a dor de dentes, como o afirmava, gostosamente, Georges Brassens), às canalhices dos homens, dos tiranos, de Deus, da paixão, a todas as categorias de infortúnio. É pelo Humor que nos salvamos da gravidade: sem o qual o dandi, não é mais do que um snob; sem o qual o sábio não é mais que um poltrão. É salvar-se da malquerença, com um sorriso, quando a ironia, ao contrário, é uma estratégia, um sistema, uma doutrina. (...) Na ironia, ao contrário, rimos contra o outro, mesmo contra si mesmo. O humor perdoa e compreende, aí onde a ironia despreza e condena. O humor apazigua, a ironia magoa. O humor é um escudo (contra a morte?). A ironia é uma espada (contra o mal?). Quando um protege, o outro separa."

Ora que belo tema para a nossa blogoesfera!
A distinção entre o humor, os que têm graça e são tocados pela graça da elegância ética e da estética e os rudes, ruidosos, prenhes de ironia - que magoam, que melindram, que separam. Os que se gastam, e desgastam, na adjectivação bacoca, oca e vazia de substância (avinagrado, verme, trafulha, "caro", de baixo QI,morder e etc)pretendem alcançar, não o Humor, mas a Ironia rasteira e assassina!

Para remate de conversa, um exemplo espantoso de humor.

Um homem de ciência, ao tempo do Terror na revolução francesa, condenado à guilhotina, já na carreta de condenado, é interpelado sobre uma questão científica. Resposta do sábio, do condenado: "Irei reflectir sobre isso, mais tarde, e com a cabeça bem repousada".

JA

Sem comentários: