Os estreitos de Malaca, Ormuz e do Bósforo, integram com os do Panamá, Suez e Bab-El-Mandeb os seis "ferolhos", "chokepoints", por onde circulam a quase totalidade da "commodity" essencial da nossa vida actual: o petróleo, o crude,
os gigantescos petroleiros que demandam os portos da nossa "civilização" circulam, quase todos, por aqui.
Para termos uma ideia do que ocorre em cada um destes estreitos, os números falam por si:
1/ Canal do Panamá - 0,5 milhões de barris/dia;
2/ Canal do Bósforo - 2,4 milhões de barris/dia;
3/Canal do Suez - 3,3milhões de barris/dia;
4/Bab-El-Mandeb - 4,5 milhões de barris/dia;
5/Malaca - 15 milhões de barris/dia;
6/Ormuz - 17 milhões de barris/dia.
Já o nosso D. Manuel I instruía o Leão dos Mares, o grande Almirante, Afonso de Albuquerque, nos primórdios do século XVI para controlar, exactamente, Malaca (há pouco promovida a património mundial), Ormuz e Aden, nas proximidades de Bab-El-Mandeb. O Almirante desincunbiu-se de todas as ordens, menos de Aden: esta nunca conseguiu tomar!
O que é deveras singular é que há, aproximadamente, cinco mil anos que as grandes "commodity" passam quase todos estes lugares. O ciclo do incenso, 2500 anos a.C; depois, a seda que chegava à Roma imperial através do Pacifico, Índico, Mar Vermelho ou Golfo Pérsico e Mediterrâneo (desde Alexandria até à "bota", futura Itália); mais tarde, bastante depois, foram as especiarias, controladas pela "entente" que integrava os egípcios, os mamelucos e Veneza; Portugal, com "Plano Índia" baralhou as rotas e, finalmente, a Holanda, já no século VII. Num lapso curto de tempo dominou um ciclo da prata dominado pelo império espanhol das Américas. A partir de 1700 emerge uma cabaz de novas "commodity" que faria o triunfo dos ingleses:café, açúcar, chá, algodão e ópio. Já no nosso século XX assistimos ao ciclo do petróleo e à emergência dos USA como potência hegemónica. Muitas das rotas de hoje são decalcadas das da seda ou das especiarias e os "gargalos" estratégicos continuam a ser os mesmos.
Percebe-se, quem não queira fechar os olhos, entre outras coisas importantes, o que significa, neste concerto , o Estreito do Bósforo e o de Dardanelos, que ligam o Mar negro ao Mar Egeu . Por aqui passam, todos os anos, 50 mil barcos e 5 500 petroleiros. No seu ponto mais estreito apenas 700 metros separam as suas margens.
A integração da Turquia na UE, em meu entendimento, não será só um desígnio histórico, civilizacional para nós europeus, mas para os nossos interesses energéticos imediatos.
Geremek, político e académico polaco,falecido faz pouco tempo, num estúpido acidente de viação, dizia uma coisa deveras interessante: "Já construímos a Europa. Agora precisamos de construir os europeus".
É óbvio que vai ser difícil fazer dos turcos europeus. Mas façamos, pelo menos, da Turquia uma parte fundamental da Europa.
José Albergaria
PS - As fotografias são dos estreitos de Ormuz, Malaca e Bósforo.
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