domingo, julho 13, 2008

A Colômbia: uma equação, com várias incógnitas, mas sem solução.













O Expresso/El País traz uma reportagem (publicada na edição do semanário português de 12 de Julho de 2008) esclarecedora, em meu ponto de vista, sobre a equação colombiana. Segundo o escritor Héctor Abad Faciolince e o fotógrafo Álvaro Ybarra Zavalla , que esteve um mês com o Bloco Móvel Arturo Ruiz das FARC, na zona do rio San Juan, na costa do Pacifico.
As incógnitas estão, quase todas, ilustradas nestas fotos: as FARC, que controlam as florestas onde "nasce" a coca, os "farcotraficantes" a laborarem nos laboratórios transformadores, as unidades politicas e militares das FARC, os paramilitares desenquadrados, que participam no negócio da coca, os militares de Uribe e os EUA, que não estão ilustrados por nenhuma das fotos que se publica neste poste.
As fotos de Álvaro Ybarra Zavala, publicadas pelo Expresso são, simplesmente, óbvias e notáveis: explicam tudo. O texto de Faciolince, um dos grandes escritores da actualidade: impressionante!
O esquema/situação é muito simples. As FARC, mantendo a sua "doutrina", a sua "ideologia", a do grupo fundador de 44 camponeses, ilustrados em marxismo-leninismo, que a criaram em 20 de Julho de 1964 para lutar contra os latifundiários mancumunados com a United Fruit Company, hoje Chiquita Brands, transformaram-se (porque sem apoio de massas genuíno)num "exército" de bandidos que se dedica ao controlo dos campos de coca, dos laboratórios que a transformam em produto apetecível para o narcotráfico que opera em todo o mundo (hoje, a ser desviada, a cocaina, para os mercados europeus, deixando as rotas para os USA em pousio).Dedicam-se ainda as FARC ao sequestro de TODO o tipo de pessoas que podem ser "trocadas" e cobram um imposto aos empresários que operam nos seus territórios, cada vez menos urbanos (chegaram a controlar mais de 100 municipios: hoje não controlam nenhum), um imposto "revolucionário".
É interessante notar que são as próprias empresas que financiam TODOS os actores desta "guerra": a Chiquita Brands, por exemplo, paga impostos de guerra ao Estado Colombiano; financia os paramilitares e encaminha centenas de milhares de vacinas para os guerrilheiros das FARC. Outro tanto ocorre com as empresas que exploram o petróleo, o ouro, as esmeraldas e o níquel. O grande problema da Colômbia não é, pois, a pobreza onde mais de 50% da população vive, mas sim as imensas riquezas deste país latino-americano.
Está provado, que as FARC, "articulam" ( e combatem também os...) com os paramilitares para estes fazerem sair a cocaína já tratada do fundo das florestas imensas que só aquelas dominam e também com unidades corruptas do exército de Uribe que a encaminham para os narcotraficantes internacionais.
Entretanto, Uribe (que atingiu, com a operação bem sucedida de resgate de 15 sequestrados, incluindo a mediática Ingrid Betancour, e sem "cumplicidades" aparentes das FARC, um nível de popularidade nunca vista...)insiste na solução militar para esta equação: a seguir a Israel e ao Egipto, a Colômbia recebe a maior e melhor ajuda militar dos EUA. As Forças Armadas colombianas são as mais bem apetrechadas de todo o continente ibero-americano.
Ora bem, todos estes ingredientes tornam-na,à Colômbia, segundo estes privilegiados observadores, Faciolince e Zavala, numa equação quase impossível de resolver. Entretanto as FARC desligaram-se do PC da Colômbia, a frente democrática constituída por várias formações de esquerda, o Pólo Democrático, condena com veemência as formas sanguinárias de luta em uso pelas FARC.
Mesmo dirigentes como Fidel de Castro, Hugo Chavez e o nosso Nobel, José Saramago vêm, ultimamente, afastando-se e a condenarem os métodos dos "farcotraficantes". O isolamento das FARC é quase total, interna e externamente.
Mas, como disseram alguns elementos do Bloco Móvel Arturo Ruíz ao fotógrafo Ybarra Zavala, quando este se interrogava sobre o imenso drama em que todos estão envolvidos e em torno do controlo da pasta, da coca, que os camponeses cultivam: "Porquê a coca? E para que vou semear mandioca? Enquanto os gringos não aprenderem a snifá-la, não a cultivaremos. Um quilo de coca vale uns 3 000,00€; um de mandioca ou café, nem 10,00€."
Ora aqui está!
JA
PS - Se dúvidas houvesse, este dossier publicado pelo Expresso - tudo esclarece. Não fica nada de fora, mesmo nada.
De Uribe aos narcotraficantes internacionais, passando pelas FARC, pelos paramilitares, pelos militares corruptos, pelos USA, todos, mas mesmo todos "ganham" com a esta guerra suja! Só o povo colombiano é que não!

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