quarta-feira, julho 02, 2008

O Mercado das Teorias e a Feira das Opiniões II

Ontem deixei, em suspenso - a questão do marxismo.
Enorme presunção esta de deixar o "marxismo" em suspenso! Mas passemos adiante deste pequeno escolho.
Creio que é o filósofo francês Paul Ricoeur, com um percurso de vida deveras singular e um dos mais próficuos pensadores franceses do século XX, que inventa e define Marx, Nietzsche e Freud como os mestres da "suspeição".
O nosso DS vai utilizar esta abordagem de maneira curiosa e, de algum modo cómica.
O marxismo tem, em si mesma, como teoria, uma abordagem sobre a consciência dos seus próprios opositores: estes estão, obviamente, enganados, porque as suas situações, de classe, os condicionam no sentido de pensarem como os capitalistas.
Esta consciência não passa pois de uma máscara, que esconde os interesses reais. Mas, curiosamente, com o marxista passa-se quase o mesmo e com igual proficiência, mas com uma diferença de monta:"os seus interesses coincidem com os da própria Humanidade".
É a consciência do marxista que está certa. Com a emergência de Marx e do marxismo deixou de haver inocência e, menos ainda, consciência inocente: ela é moral ou imoral. É sobre este pedestal que os comunistas irão "construir a sua superioridade moral!"
Diz o nosso autor,DS,que, na Alemanha, sobretudo depois de 1968 "o marxismo dominava o mercado das teorias na Alemanha, porque era imbatível na área da suspeição ideológica."
É espantoso o facto do marxismo, como TEORIA, ter continuado ainda em alta durante ainda mais de vinte anos, quando desde 1956 (Hungria) e 1968 (Checoslováquia)e mesmo, antes desta datas, já havia denúncias tremendas e seguras, das malfeitorias de Estaline e seus próceres, quando já se conhecia muito da realidade prática em que se atolava o marxismo!
Então, ainda em finais da década de 60, o marxismo tinha uma oferta muito variada dedicada ao "sentido" da vida de cada um, de cada povo e até da humanidade. Cada "cliente", para utilizar o calão de DS, poder recolher um fantástico cenário onde lhe era atribuído e pedido para desempenhar papel de herói e protagonista da história. Os intelectuais (os exemplos são aos milhares e ocorreram em todas as latitudes do planeta)sentiam-no, o marxismo, como uma TEORIA única, complexa, mesmo até holística, e que apelava a uma atitude interveniente, missionária, redentora do homem e da Humanidade. O marxismo punha em linha a sua ascensão e sucesso de vendas, através duma divulgação eficiente, "lançando, simultaneamente, a suspeição sobre o adversário".
Hoje, em que ponto se encontra o marxismo?
Depois do colapso, que teve inicio em 1986, do socialismo real, na Europa Ocidental, o marxismo vai cair numa crise profundíssima. Até então, o marxismo, não se tinha confrontado com a realidade e, menos ainda, com o seu insucesso como TEORIA. Este desfecho, nem os mais "optimistas" conservadores e reaccionários o tinha previsto! Nem mesmo a Senhora de Fátima (que admitiu só a conversão da Rússia bolchevista!...)foi capaz de adivinhar tal desastre!
Este desfecho era, de todo, mais do que imprevisível.
A pergunta que sobrevive e que é de mor pertinência, na actualidade: algum dia o marxismo se irá recompor?
DS, sobre este entreacto, aborda-o com muita prudência: "Se alguma vez irá recompor-se é algo que é difícil prever. talvez assim não aconteça sob a sua forma antiga e é provável que ocorram radicalizações, constituições de seitas e metamorfoses [transfigurações] teóricas. De momento até os observadores do mercado mais qualificados se calam."
JA

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