terça-feira, abril 15, 2008

Maio de 1968: a minha tese.

Sustento que, de algum modo, os acontecimentos de Maio 1968, em Paris e em França, foram um epifenómeno - não uma "marca" acontecimental, no sentido da historiografia de Paul Veyne.

Nâo deixou traços, nem sequer sulcos, nem culturais, nem estruturais,nem sociais, menos ainda nas instituições (salvo, talvez, nas Universidades..., que se massificaram, "democratizaram"!e, nas empresas, no território do exercício da democracia sindical e provocou, então, aumentos salariais!).

Deixou, isso sim, toda uma profusão de "mitemas" cultuados pelas "tribos" de esquerda, ao modo dos sobreviventes da Commune de Paris!Creio mesmo que menos ainda: há poucas marcas literárias, há poucas marcas poéticas, quase nada, ou mesmo nada, na música/canção, quase nada na filmografia e na dramaturgia!

Estive a reler a carta, datada de 8 de Junho de 1968,de Paris, que António José Saraiva enviou ao seu amigo Óscar Lopes, então no Porto e arreigado ao comunismo ortodoxo do PCP, na clandestinidade e, acho-a, do ponto de vista dos factos que então ocorreram - notável!

Começa AJS:

"Tenho estado a assistir a uma coisa que não se vê todos os dias: uma revolução (...)".

Mais adiante, continua ele, AJS, descrevendo as fases do processo: "1.ª fase: Os estudantes conquistam a Universidade [3 a 11 de Maio]. A entrada da polícia na Sorbonne provocou manifestações crescentes no Quartier Latin. Houve centenas de feridos, mas nem um só morto. O grupo que desencandeou isto é o [movimento do 22 de Março]m amálgama de anrquistasm trotsquistasm pro-chineses, guevaristas e'situacionistas'.

2.ª fase: as greves. Inicialmente o PCF condenou os 'excessos' dos estudantes. Mas como as barricadas emocionaram toda a população, a CGT e os outros sindicatos organizaram uma manifestação, a maior de que há memória em Paris [13 de Maio] e declararam a greve geral em paris por 24 horas. No dia 15, espontaneamente, começam grees nas grandes empresas metalúrgicas, que rapidamente se alstraram. Ao fim de 8 dias há em toda a França 10 milhões de grevistas. Mas logo se desenha uma oposição entre o PCF e os estudantes. Na Sorbonne não há aulas, mas comícios políticos permanentes. Os estudantes pretendem fazer a revolução total contra o [capitalismo e a sociedade de consumo]. A CGT por seu lado defende as [reclamações] operárias 'salários, securité social, liberdade sindical'. Há um conflito aberto. Os estudantes são impedidos de entrar nas fábricas pelso piquetes de greve. No entanto muitos operários jovens querem chegar à fala com eles. No dia 24 de Maio, em que o De gaulle propõe o referendum, há 2 manifestações, a dos estudantes e a da CGT. Os estudantes queriam provocar a junção das duas. O PCF evitou-a, alterando à última hora, o itinerário da manifestação da CGT. No dia 24 de Maio novas barricadas, em vários pontos de Paris, que o l'Humanité condena expressamente como sendo obra da pègre (escumalha)."

A carta já vai longa, mas ainda tem mais substância que eu considero fundamental para sustentar a minha tese e para rememorar os FACTOS, esses incontornáveis quanto decisivos no apuramento da VERDADE histórica e da história.

Amanhã voltarei à CARTA de AJS e à minha argumentação.

JA

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