Sem me querer envolver na polémica sobre o stalinismo -pensando eu que a existência e defesa do dogma não são boas conselheiras -sempre me apetece dizer que o estalinismo e-porque não?-- o leninismo, têm na sua prática similitudes com o catolicismo. Têm os seus mártires, seja do nazismo e fascismo, seja dos imperadores romanos, têm as suas certezas como absolutas e que hão-de vencer no futuro, mesmo que o presente seja de derrotas. Staline estudou para pope ( padre), a Passionaria ( santa maria das Astúrias que deu o nome de guerra a Dolores Ibarruri) era uma devota até à sua reconversão já próximo da idade adulta; Cunhal teve, por parte da sua mãe, uma esmerada educação católica . Ambas as crenças ou dogmas admitem que a principal razão lhes pertence. Mataram em nome da razão e da fé ( fosse ela 'revolucionária' ou apenas religiosa), na Inquisição e no Goulag, acreditaram-se sempre como vanguardas, seja na luta contra os infiéis, seja no combate a todos aqueles que acreditam e acreditaram que as "liberdades colectivas","amplas liberdades" no eufemismo, não podem de modo algum esmagar, como esmagaram, as liberdades individuais. Milhões de mortos seja nas fogueiras dos torquemadas ou nos nos campos de concentração estalinistas, retiram a qulquer um deles (Igreja ou comunismo que nunca chegou a haver) qualquer superioridade moral, qualquer dimensão ética, enquanto colectivos e instituições. Não ponho eu em causa que na Igreja Católica, quer nos partidos comunistas, não haja excelentes pessoas, de irrepreensível conduta. O que está em causa não é qualidade do indivíduo, o que está em causa é uma ideologia que, em seu nome, pode levar um homem bom a matar outro homem bom. Um carrasco pode ser um pai exemplar, que não significa que deixe de ser carrasco; um homem livre, vítima do carrasco, pode não ser um pai exemplar, o que não significa que deixe de ser um homem capaz de ser livre. Ao nazismo e ao fascismo, na sua barbárie, devemos acrescentar o "comunismo" de Staline, na sua necessidade de matar os outros, em nome de uma utopia em que ele próprio não acreditava. Podemos acrescentar Pol Pot, a Coreia de Norte, a China e tantos e tantos atentados à dignidade humana.
Penso que os pedidos de perdão sobre um passado não são suficientes se não forem claramente condenados por uma prática presente. Que me interessa que se condene Staline se se continuam a utilizar métodos stalinistas ( não obviamente com o terror e a morte, que os tempos são outros e o poder é outro); que me importa que o Papa peça desculpa por Galileu, pelos queimados na Inquisição, pelas guerras que fomentou, se, nos seus métodos, já sem Inquisição nem poder temporal, continua, porém, a tentar impor valores morais ( tão dogmáticos que não permitem a dúvida), a sociedades profanas, seja ela qual for a sua ideologia, e a condicionamentos e restrições das liberdades individuais?
Vivemos um tempo de inquietação e dúvida, sem certezas, apenas com algumas convicções, com a necessidade de um aprofundamento ideológico em que o religioso não esmague o laico, ainda que a espiritualidade aprofunde o conhecimento do homem. As religiões inquietam, sejam elas quais forem, no Médio Oriente, nos USA ou, mesmo na Europa, porque querem condicionar a política e servir de freio e constrangimento à liberdade do homem, ao seu pensamento e ao seu protesto.
P.S.( post scriptum): Eu vi com estes olhos que a terra há-de comer, uma fotografia de dois dirigentes sorridentes: Mário Nogueira e Luís Filipe Meneses. Às vezes uma imagem vale muitas palavras. Tudo o resto é poeira, no argumento do efémero, para esconder a essência do acto.
R.R.
segunda-feira, abril 21, 2008
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