Este domingo, 20 de Abril do ano da graça de 2008 (os judeus não o datam assim, os maçons tambem não...mas fiquemo-nos por esta convenção.)foi, para mim, pleno de coisas interessantes e só falarei daquelas que importam.
Recuso-me a falar de ténis, futsal, futebol, na crise no Boavista, na Liga de Futebol Profissional, no Benfica, no Sporting e na alegria porcina de NPC, ou nos chistes de mestre "C'ajuda"!...
1.º Tema
Da poesia.
" O crespúsculo do entardecer/sobre o eixo do tempo e sobre si mesmo rodando/abria a vertiginosa vertigem, a sua grande flor azul// e negra, esta flor do luto fechando-se sobre a terra.// É então que tendo talvez mudado a mão das águas/ou interrompido o tempo a mão do mundo/se terá lançado contra a solidão a voz sem mais-/era a noite nascente: a noite que apenas nascia."
Do último livro do poeta Manuel Gusmão "A Terceira Mão, publicado pela Caminho, 2008, 78 págs., €10".
António Guerreiro (um dos mais lúcidos e competentes críticos literários da nossa actualidade), em recensão recente diz, da poesia e, d'algum modo, do poeta: "Experimentemos procurar em A Terceira Mão algumas razões que fazem com que esta poesia esteja à altura das realizações poéticas mais elevadas do último meio século (que foi, de resto, um periodo riquíssimo). Podemos começar por dizer que os poemas elaboram de tal modo a sua forma interna (a tarefa que os produz e a ideia que neles se efectua) que tudo neles é governado, com o máximo rigor, por uma lei da compenetração e da coesão de todos os seus elementos. Chamo a atenção para este aspecto porque ele explica o facto de estes poemas, construindo embora uma metaforicidade política, em nenhum momento concederem qualquer facilidade ao pensamento poético, não deixando que um significado meramente conteudístico, [gnómico] (como dizia Adorno dos filosofemas que Heidegger encontrou na poesia de Hölderlin), venha inscrever-se de maneira mimética e se quebre a síntese, a coincidência do político e do poético."
António Guerreiro, é o mesmo que, pretextando o passamente de Maria Gabriel LLansol dizia que ela será, porventura, a MAIOR escritora, no futuro, que o século XX português produziu...é, ainda, o mesmo que sublinha a qualidade excepcional do "Quarto Magenta" de Mário de Carvalho e de TODA a obra deste nosso contemporâneo...é, ainda e sempre, o mesmo que dúvida das qualidaes poéticas de Manuel Alegre e de ficionista da autora do Cais das Merendas, Lidia Jorge e o mesmo que não gasta um seitil para discorrer sobre a "escrita" de ficção de MST!
António Guerreiro é o MEU crítico de devoção e de eleição!
2.º Tema
Da religião católica e dos seus dramas actuais.
"Deus ainda anda por aí" é o título que Frei Bento Domingos utiliza para a sua crónica dominical, em o Público de 20 de Abril p.p. Esclarece-nos o frade (creio que dominicano...) que "roubou" esta "entrada" ao filósofo G. Vattimo, que, este, utiliza para encerrar um diálogo sobre O Futuro da Religião. Como não sei fazer link's, só mes resta aconselhar a leitura, na íntegra, desta muito interessante e actualíssima crónica do frade Bento Domingues.
Diz aquele filósofo, citado por Frei Domingos:"Não encontro nenhuma explicação para o facto de que alguém não aceite a predicação de uma religião de amor, caridade, pathos e misericórdia. É este o mistério do primeiro capítulo do Evangelho de João: os seus não o acolheram. Mas por que será tão difícil a prédica do cristianismo? Acho que a culpa é da Igreja; não simplesmente por causa da riqueza do papa ou da corrupção dos padres pedófilos nas igrejas americanas,mas por causa da força excessiva da sua estrutura. (...) Quando falamos do futuro da religião, coloco-me também uma outra pergunta: qual o futuro da Igreja, da sua estrutura visível, disciplinar e dogmática? Sou censurado por muita gente por falar ainda de cristianismo em vez de outra coisa, mas o que recebi da Igreja, da tyradição, dos textos, é o cristianismo..."
Mais palavras, para quê?... Isto foi escrito por um filósofo, um crente, um cristão, que argumenta e sustenta com meridiana frontalidade o que, já em minha opinião, deverá preocupar qualquer cristão, em qualquer das Igrejas em que se situe e milite.
3.º Tema
Ainda a religião.
Mas, agora, do ponto de vista duma estudiosa de temas islãmicos, Faranaz Keshavjee, que também nos questiona, no passado dia 20 de Abril, em o Público: Será possível o diálogo inter-religioso?
Eu apetece-me, desde logo, responder pela negativa.
Tenho defendido e argumento que este diálogo só serve, se para isso servir, para aproximar os clérigos, as hierarquias, os teólogos, os filósofos das diversas religiões, os antropólogos e porventura os historiadores e para "trocas" entre eles.
Hoje, haverá quem sonhe com uma religião universal, fruto deste diálogo. Puro engano, em minha incompetente opinião!
Defendo que a "religião" universal, aquela que derivará de "religio" (cumprir escrupolosamente...)está já plasmada nos preceitos MORAIS da Carta Universal dos Direitos Humanos, aprovada à saida da 2.ª Guerra Mundial pelas Nações Unidas.
Sustento que o diálogo entre religiões, a aliança entre civilizações só poderão ter alguma viabilidade se, TODOS, os que nestes processus intervierem, aceitarem, como condição sine quo non e, antes doutros quaisquer pressupostos, aquela CARTA!
Mas o que nos diz a estudiosa Faranaz Keshavjee:"O diálogo será também possível quando o Islão e outras religiões civilizacionais, nas suas mais diversas manifestações, culturais, científicas e artísticas,(-Islão e ciência?!...Islão e arte?!...)possam fazer parte do ensino e investigação também nas universidades. Se existe, de facto, um genuíno interesse da Europa e de Portugal na questão do diálogo inter-religioso, então é preciso incentivar o estudo, a pesquisa e a especialização nas diferentes religiões; precisamos de trabalho sério na área de estudos sobre as religiões. Precisamos de verdadeiros especialistas do Diálogo, daquele de que falo aqui, e não daqueles que se [especializam] assim que dizem umas coisas na TV." E, como remate de conversa, diz Faranaz Keshavjee: (...) para que do apreço sobre essas diferenças se possa construir uma sociedade a partir de uma ética transversal onde o [ser humano], digno e próspero, seja o nome desta reiligião universal. Só assim é possível o diálogo inter-religioso."
Que bem escreve Faranaz Keshavjee!
Do lado do Ocidente Cristão digo-lhe, a esta estudiosa de temas islâmicos(dos seguidores do Islão: "abandono à vontade de Alá!"), há NOMES, iniciativas, interpelações (Secretário-Geral da ONU, Jorge Sampaio, Tony Blair, Zapatero, Padre Anselmo Borges, António Reis, Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano e MUITAS iniciativas já conseguidas e realizadas e etc...). E, no Islão, o que temos já feito, como trabalho de casa?...Nada...ou quase nada!
A Arábia Saudita, a Nigéria, o Irão, a Siria, a Jordânia, Israel, já deram algum passo, por pequeno que seja, para contribuirem para esta "causa"? Não me parece.
Para haver diálogo é necessário, pelo menos, 2 entidades implicadas, não lhe parece?
A improvável possibilidade de diálogo, eficiente, entenda-se, entre religiões e a impossibilidade da aliança de civilizões?!...Talvez.
Eu, pessoalmente, acredito, na Aliança da humana Humanidade, assim o queiram os HOMENS!
E por aqui me deixo ficar.
JA
segunda-feira, abril 21, 2008
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